SONHOS COMPARTILHADOS

 

Nesta oportunidade gostaríamos de enfatizar um assunto do momento no rastro da globalização: o poder da união, da concórdia ou, aproveitando este ano rotário de sonhos e realidades, o poder dos sonhos compartilhados.

O Presidente James Lacy cita dois exemplos de sonhos que só se tornaram realidade porque os sonhadores, além de batalhadores, conseguiram compartilhá-los : Paul Harris quando em 1905 idealizou o nosso movimento rotário e Arch Klumph ao propor a criação de um fundo de dotações, em 1917, que hoje é a nossa Fundação Rotária.

O próprio Paul Harris no seu livro "Meu Caminho para Rotary" nos ilumina. Escreveu ele em 1945:

" Deus deve ter visto Rotary com bons olhos. Muitas vezes senti-me cansado e desanimado. Foi, na verdade, providencial que, no terceiro ano após a fundação, surgisse um companheiro que, mais que qualquer outro, se dispusesse a trabalhar para TRANSFORMAR ROTARY DE SONHO EM REALIDADE. Ninguém é capaz de imaginar o que teria acontecido a Rotary sem ele. Estou certo de que tem me passado muito crédito pelo trabalho dele. Chesley Perry, tão logo se associou ao Rotary Club de Chicago, entrou, em entusiástica atividade para expandir a instituição e eu, feliz, vi nele um precioso colaborador". Sonhos compartilhados...sonhos divididos...o Rotary, de sonho se tornando realidade...

Companheiros e parceiras. Sonhos compartilhados, além de otimizar e multiplicar nossas ações são fatores de sobrevivência de nosso movimento como prestador de serviço, notadamente à comunidade.

União subentende trabalho conjunto ou trabalho em equipe. O que na teoria é óbvio e até indiscutível, na prática não é tão simples por dois motivos básicos : somos diferentes na formação, nos anseios, nas expectativas... e nosso envolvimento rotário é sempre um voluntariado. Essas duas características tão naturais ou tão humanas, que temos que preservar e defender como inerentes à própria vida e à liberdade, paradoxalmente, são fatores inibidores ou detonadores do "poder dos sonhos compartilhados".

A solução está em nossas mãos para eliminar ou minimizar esses fatores de impedimento através da firme intenção ou desejo de suplantá-los. Em outras palavras, isso só poderá ser conseguido com certa dose de idealismo, despojamento, crença nos seus sonhos, respeito pelos sonhos dos outros e desejo de ser útil.

O compartilhamento dos sonhos começa com procurar entender o outro. A vida moderna está se tornando tão complicada quão complicado nos entendermos. Cada vez mais, iludidos com a enxurrada de informações que recebemos, tendemos a nos tornar "donos da verdade". Pior que isso, não são verdades universais, mas verdades próprias, recém-adquiridas ou recém-descongeladas. Isso traz uma complicação terrível.

Saudosismo à parte, há trinta anos, recém-ingressado no Rotary, tivemos contato com um exercício rotário que não temos visto ser empregado mais . O exercício consiste em, face a uma discussão ou debate, procurar se colocar na posição do outro. Como vemos, trata-se realmente de um exercício e não se aplica aqueles declaradamente " donos absolutos de suas verdades". Porém, se aplicável e funcionar, possivelmente seja a solução para o compartilhamento dos sonhos ou para a união de esforços. Nós que somos diferentes e, repitamos, devemos defender esta característica, passamos a encontrar alguns pontos em comum, ou seja, alcançamos alguma homogeneidade em meio a essa fabulosa heterogeneidade da vida.

No Rotary, este estado ideal é conhecido como tolerância, que se opõe a todo radicalismo ou extremismo de posições. Outras vezes esse estado de espírito é definido como companheirismo.

Olhando para o arco-íris no início deste ano rotário, atribuímos a cada uma das sete cores um significado : tolerância, entendimento, desprendimento, boa vontade, compreensão, paz e amor. Do arco-íris, a mesclagem das cores resulta na luz branca, fonte da vida. Na nossa instituição, a mesclagem resulta no Ideal de Servir ancorado no próprio Objetivo do Rotary.

Acreditamos que cada um de nós nasce com estes princípios básicos, porém, o passar do tempo tende a mascará-los ou destruí-los. Uma das missões do Rotary é justamente resgatá-los. Porém todo o esforço será infrutífero se não houver uma adesão consciente de cada um de nós.

Por outro lado trata-se de uma questão de bom senso e até de coerência: os princípios fundamentais que pregamos temos que, antes de mais nada, praticá-los. Além disso, "Um exemplo vale por mil palavras", diz o dito popular.


Quanto somos tolerantes, pregando a tolerância?
Quanto somos companheiros, pregando o companheirismo?
Quanto somos éticos, defendendo a ética?
Quanto somos de e pela paz, contribuindo com a Fundação Rotária?

Respondidas estas questões, podemos avaliar realmente o poder de nossos sonhos compartilhados para atender ao pedido do Presidente James Lacy para incluir aos nossos, os sonhos de nossas crianças.

Seu apelo tem contornos de uma oração :

" Sonhemos, então, com um mundo onde as crianças possam florescer. —- Um mundo onde nenhuma criança vá dormir com fome. —- Um mundo onde toda criança doente receba cuidados médicos. —- Um mundo onde todas as crianças tenham a oportunidade de aprender a ler e a escrever. —- Um mundo onde todas as crianças tenham um lar, agasalhos e sapatos nos pés. —- Um mundo onde toda a criança sinta o amor e compaixão de adultos carinhosos. —- Um mundo onde o medo e o desespero sejam conceitos desconhecidos; um mundo onde a juventude tenha a esperança e a possibilidade de uma vida melhor." Assim seja.

 (Outubro de 1998)

 

 

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