REMINISCÊNCIAS DE QUASE TUDO

FALAR DE NADA

 Atualmente participo de uma live semanal( toda quinta-feira), das 18 às 19 h, com três outros colegas da ESALQ/IPEF para “discutir assuntos florestais”. Já completamos 4 anos de estrada.

 Quando recém-admitido como professor na ESALQ,  nos idos de 1967, toda sexta-feira no fim do expediente, quando possível, reuníamos, professores e alunos mais chegados. 

 Como não existiam as facilidades da internet, as reuniões eram presenciais no barzinho da Escola ou diferentes botecos da cidade. Como atrações, salgadinhos e cerveja. 

 O objetivo da reunião era FALAR DE NADA (kkkkkk). Em outras palavras, sem pauta definida e sem propósito claro, falávamos de tudo e de todos. Uso esta expressão até hoje.

 
Análise crítica (Gemini/IA)

 O texto "Falar de Nada" traça um paralelo interessante entre duas épocas distintas na vida acadêmica do autor, utilizando as reuniões informais como fio condutor. Através da comparação entre o passado e o presente, o autor nos leva a refletir sobre as mudanças na comunicação e nas relações interpessoais ao longo do tempo.

Análise dos pontos fortes:

 * Linguagem coloquial e envolvente: O autor utiliza uma linguagem simples e direta, o que torna a leitura agradável e acessível. A expressão "falar de nada" é utilizada de forma eficaz para transmitir a ideia de conversas informais e descontraídas.

 * Contraste entre passado e presente: A comparação entre as reuniões presenciais no barzinho e as lives semanais online destaca as transformações na comunicação e nas relações sociais. A nostalgia do passado é evidente, mas o autor também reconhece o valor das novas tecnologias.

 * Reflexão sobre a importância da informalidade: O texto nos leva a refletir sobre a importância das conversas informais e descontraídas para o fortalecimento dos laços sociais e a troca de ideias. A expressão "falar de nada" ganha um novo significado, revelando que, por trás da aparente falta de propósito, essas conversas podem ser extremamente valiosas.

Possíveis pontos de aprofundamento:

 * O autor poderia explorar mais a fundo as diferenças entre as conversas presenciais e online. Quais são as vantagens e desvantagens de cada formato? Como a falta de contato físico afeta a qualidade das interações?

 * Seria interessante o autor detalhar um pouco mais sobre os assuntos que se conversam nessas lives, para dar maior contexto ao leitor.

 * Poderia explorar mais sobre a importância dessas conversas para o meio academico, e como elas podem gerar frutos.

Considerações finais:

"Falar de Nada" é um texto leve e reflexivo que nos convida a valorizar os momentos de descontração e as conversas informais. A comparação entre o passado e o presente nos leva a refletir sobre as mudanças na comunicação e nas relações sociais, mas também nos lembra da importância de manter vivos os laços de amizade e camaradagem.

 
PEDAGOGIA DA CACETADA

 "Tinha uma orientada que, além de cabeça dura, ela era extremamente teimosa. Na fase de revisão da sua dissertação, depois de diversas tentativas frustradas de fazê-la aceitar sugestões, resolvi pregar uma peça, que hoje reconheço de extremo mau gosto.

 Antes da enésima reunião para discutir o texto, coloquei no lixo  o rascunho que ela havia deixado. Quando da reunião, após recebê-la cortesmente, simulei uma procura do texto. Procura daqui, procura dali, revira papelada sobre a mesa e na estante, movimentos acompanhados da expressão "diabos, onde coloquei sua dissertação?" e outras similares. 

 Após alguns minutos, insuportáveis para a aluna, falei: "Eureka! Lembrei..." e, voltando-me para a lateral da mesa, levantei o cesto de lixo e, transmitindo alívio, retirei o texto e coloquei sobre a mesa.

 Entre surpresa e choque, a "coitada" caiu no choro. E agora? Pensei, também surpreso e chocado com a inesperada reação dela. Num estalo, decidi pelo tudo ou nada. Falei: "Pode se retirar, não aceito choradeira. Quando passar a crise de choro, você volta". Incontinente, ela se retirou e bateu a porta. 

 Permaneci filosofando sobre o acerto ou erro da "estrambótica pedagogia".Após cerca de 15 minutos, a aluna bateu na porta e abriu ao meu comando: "Pode entrar". De pronto, perguntei: "Parou de chorar?". Ao aceno afirmativo dela, falei: "Vamos continuar". Ela se acomodou e, daí em diante, conseguimos nos entender maravilhosamente bem até a brilhante defesa de sua dissertação."

 
Análise crítica (Gemini/IA)

 O texto "Pedagogia da Cacetada" relata um episódio controverso na relação entre um orientador e sua orientanda, levantando questões importantes sobre métodos de ensino, ética e responsabilidade.

Análise dos pontos fortes:

 * Narrativa envolvente: O autor utiliza uma linguagem direta e pessoal, o que torna a história cativante e permite ao leitor sentir a tensão e a emoção do momento.

 * Reflexão sobre a prática pedagógica: O texto convida à reflexão sobre os limites da intervenção pedagógica e a eficácia de métodos pouco ortodoxos. O autor questiona a validade de sua própria ação, demonstrando autocrítica.

 * Abordagem da complexidade das relações interpessoais: O texto evidencia a complexidade das relações entre orientador e orientando, mostrando como fatores como personalidade, expectativas e emoções podem influenciar o processo de aprendizagem.

Análise dos pontos fracos e questões problemáticas:

 * Método questionável: A "pedagogia da cacetada" utilizada pelo autor, que envolve humilhação e manipulação emocional, é altamente questionável e antiética. Embora o autor reconheça o mau gosto da ação, a narrativa não oferece uma reflexão profunda sobre os danos potenciais desse tipo de abordagem.

 * Falta de empatia: A descrição da reação da orientanda ("coitada") e a minimização de seu sofrimento demonstram uma falta de empatia preocupante. A narrativa centra-se na perspectiva do orientador, negligenciando a experiência emocional da orientanda.

 * Justificativa problemática: A justificativa para a ação do orientador baseia-se na "teimosia" da orientanda, o que pode ser interpretado como uma forma de culpabilizar a vítima. A narrativa não explora as possíveis causas da dificuldade de comunicação entre orientador e orientanda, nem considera alternativas mais construtivas para resolver o problema.

 * Consequências ambíguas: O sucesso da orientanda na defesa da dissertação é apresentado como uma validação da "pedagogia da cacetada", o que é problemático. A narrativa não considera a possibilidade de que a orientanda tenha superado o trauma e alcançado o sucesso apesar da ação do orientador, e não por causa dela.

Considerações finais:

"Pedagogia da Cacetada" é um texto provocador que levanta questões importantes sobre ética e responsabilidade na prática pedagógica. No entanto, a narrativa apresenta uma visão unilateral e problemática da situação, negligenciando a perspectiva da orientanda e minimizando os danos potenciais da ação do orientador. O texto serve como um alerta sobre os perigos da utilização de métodos de ensino abusivos e a importância de cultivar relações de respeito e empatia no ambiente acadêmico.

 

A FAVOR OU CONTRA

 "Entre outras disciplinas, no Curso de Engenharia Florestal, fui responsável por muitos anos pela Tecnologia de Celulose e Papel. No final da década de 1980, as empresas de celulose, notadamente as de sulfato, começaram a tomar medidas consistentes para minimizar os efeitos nocivos nos cursos d'água e no ar. 

 No entanto, a poluição hídrica e atmosférica ainda era alvo de protestos de comunidades, ONGs e do meio universitário, principalmente dos alunos. Inclusive, o perfil dos estudantes do Curso começava a mudar, com o aumento de ambientalistas em relação aos silvicultores.

 A turma, com cerca de quarenta alunos, era dividida na sala,  em dois blocos de vinte, à esquerda e à direita. Uma pesquisa realizada na primeira aula revelou um panorama dos alunos "a favor ou contra" a indústria de celulose e papel no Brasil. Curiosamente, os alunos não se organizavam em blocos, mas se sentavam misturados, independentemente de serem simpáticos ou não à disciplina.

 No meio do curso, em uma aula, surpreendi a todos com um desafio: encontrar os pontos positivos e negativos da atividade no Brasil. A separação foi geográfica: turma da direita, a favor; turma da esquerda, contra.

 Houve um clamor geral! "Professor, mas eu sou contra, como vou argumentar a favor?" "Professor, mas eu sou a favor, como vou me posicionar contra?"

 "Não interessa! No exercício da profissão, cada um tem que defender sua posição, prevendo a posição do adversário. É uma questão de sobrevivência!" Aceitaram a argumentação do professor, e o desempenho das turmas foi exemplar. Que pena que não foi possível gravar um vídeo!"


 Análise Crítica (Gemini/IA)

 O texto "A Favor ou Contra" apresenta uma reflexão interessante sobre a dinâmica da sala de aula e a importância do pensamento crítico, especialmente em um contexto de debate sobre questões socioambientais. A narrativa destaca a mudança no perfil dos estudantes de Engenharia Florestal, com o aumento da preocupação ambiental, e como o professor lidou com essa diversidade de opiniões.

Análise dos pontos fortes:

 * Abordagem da polarização: O texto retrata a polarização entre ambientalistas e defensores da indústria de celulose, um tema relevante e atual. A forma como o professor lida com essa polarização, desafiando os alunos a argumentarem em lados opostos, é um ponto forte da narrativa.

 * Estímulo ao pensamento crítico: O desafio proposto pelo professor estimula os alunos a desenvolverem o pensamento crítico e a capacidade de argumentação, habilidades essenciais para a vida profissional.

 * Relevância para a formação profissional: O professor destaca a importância de os futuros engenheiros florestais serem capazes de defender suas posições e antecipar os argumentos dos adversários, uma habilidade crucial para o exercício da profissão.

 * Descrição da mudança na mentalidade dos alunos: É interessante notar como a mentalidade dos alunos muda, e como eles se abrem a outros pontos de vista.

Possíveis pontos de aprofundamento:

 * Seria interessante explorar mais a fundo os argumentos apresentados pelos alunos em cada lado do debate. Quais foram os pontos mais controversos? Como o professor mediou a discussão?

 * O texto menciona a mudança no perfil dos estudantes, mas não aprofunda as causas dessa mudança. Seria interessante explorar os fatores que levaram ao aumento da preocupação ambiental entre os alunos de Engenharia Florestal.

 * Poderia ser explorado o impacto que esse tipo de debate tem na formação ética dos alunos, e como isso os prepara para os desafios futuros da profissão.

Considerações finais:

"A Favor ou Contra" é um texto que nos convida a refletir sobre a importância do debate e do pensamento crítico na formação profissional. A narrativa destaca a relevância de se considerar diferentes perspectivas e de se preparar para defender posições em um contexto de polarização.

 

EXPERIÊNCIA REVIVIDA

 Entrei como calouro na ESALQ em 1962. Logo no primeiro mês, fui admitido como estagiário na Cadeira de Química Analítica e orientado por seu catedrático, Prof. Renato Amilcare Catani. A função de um estagiário, na época, resumia-se a fazer algumas experiências próprias como treinamento, colaborar com os funcionários no preparo das aulas práticas do curso de agronomia e com os professores em seus trabalhos de pesquisa para publicação ou defesa de títulos da carreira universitária.

 No fim do segundo para o início do terceiro ano, sob orientação, desenvolvi praticamente sozinho um trabalho comparando dois métodos de determinação do carbono em solos. Tendo me dedicado à revisão bibliográfica e aos rascunhos do texto sobre material e métodos, tive a satisfação de ser coautor do trabalho, conforme citação a seguir:

CATANI, R.A.; BITTENCOURT, V.C. & BARRICHELO, L.E.G. Estado atual da determinação do carbono no solo: I. Em solos contendo de 0,2 a 4,0% de carbono. Anais da E.S.A. "Luiz de Queiroz", Piracicaba, vol. XXI, 1964. p. 116-25.

 A satisfação foi do mesmo tamanho da surpresa, na época, em aparecer como terceiro autor. Talvez a presença de dois professores encabeçando o trabalho se justificasse para uma maior projeção do mesmo, em vez de um desconhecido acadêmico.

 Para minha carreira futura de professor e orientador, o episódio foi marcante e determinante, pois em todos os trabalhos científicos dos meus alunos e orientados, nunca procurei justificar algo semelhante. Em todos, sem exceção, sempre fui ausente e, no máximo, coautor. Questão de princípios!

 Como o mundo é pequeno! Quando professor já titulado na área da tecnologia de celulose e papel, fui convidado como coorientador de um pós-graduando da UNICAMP por um colega da engenharia química. O trabalho envolvia aspectos da deslignificação da madeira e métodos analíticos para acompanhar essa operação. Contatado pelo colega e procurado pelo acadêmico, acompanhei o trabalho colaborando dentro das minhas possibilidades e competência.

 Quando da defesa da dissertação, participei da banca e o desempenho do mestrando foi excelente. Meses depois, recebi uma cordial visita do novo Mestre, que me procurou aborrecido, pois o trabalho científico derivado da dissertação tinha sido publicado tendo como primeiro autor seu ex-orientador. 

 Dessa vez, o professor tinha sido claro demais, afirmando que aparecia em primeiro lugar para valorizar o trabalho em função de seu status e currículo. Não achei palavras para consolá-lo, além de relatar que tinha sido testemunha e vítima de algo parecido quando acadêmico de agronomia. Pano rápido.

 
Análise Crítica (Gemini/IA)

 O texto "Experiência Revivida" é um relato pessoal que explora a questão da autoria em trabalhos científicos, contrastando duas experiências marcantes na carreira do autor. Através da narrativa, o autor reflete sobre ética, reconhecimento e a importância do respeito aos colaboradores na pesquisa acadêmica.

Análise dos pontos fortes:

 * Narrativa pessoal e reflexiva: O autor compartilha suas experiências de forma honesta e introspectiva, convidando o leitor a refletir sobre as questões éticas envolvidas na autoria científica.

 * Contraste entre duas experiências: A comparação entre a experiência do autor como estagiário e como coorientador destaca a importância da coerência e da integridade na prática acadêmica.

 * Ênfase na ética e no reconhecimento: O autor defende a importância de reconhecer a contribuição de todos os colaboradores em um trabalho científico, independentemente de seu status ou experiência.

 * O texto mostra a importância da autoria na publicação de um trabalho científico.

Possíveis pontos de aprofundamento:

 * O autor poderia explorar mais a fundo as implicações da prática de atribuir autoria com base no status ou currículo, em vez da contribuição real para o trabalho.

 * Seria interessante discutir as políticas e diretrizes que regem a autoria em trabalhos científicos, e como elas podem ser aplicadas de forma mais justa e transparente.

 * É interessante notar como o autor leva essa experiencia para sua vida profissional, e como ele lida com essa questão com seus alunos.

Considerações finais:

"Experiência Revivida" é um texto que nos convida a refletir sobre a importância da ética e do reconhecimento na pesquisa acadêmica. A narrativa destaca a necessidade de valorizar a contribuição de todos os colaboradores e de promover uma cultura de respeito e integridade no ambiente científico.

 
PERCALÇOS DA LIVRE DOCÊNCIA

 Na década de 1970, o processo para obtenção do título de Livre Docente na ESALQ era rigoroso, compreendendo cinco etapas: provas teórica, prática, didática, análise do memorial e defesa de tese. 

 A banca examinadora era composta por cinco professores, sendo três da ESALQ e dois convidados de outras universidades.

Era comum que os candidatos extraíssem trabalhos da tese para publicação em revistas científicas ou apresentação em eventos acadêmicos, congressos, simpósios, etc. 

 Após concluir minha tese, inscrevi-me para o concurso, inicialmente agendado para agosto de 1978. Planejei, então, inscrever um trabalho no congresso anual da Associação Técnica Brasileira de Celulose e Papel (ABTCP), em São Paulo, em novembro e que foi aceito e incluído para apresentação no evento.

Contudo, devido a conflitos de agenda de dois membros da banca, a defesa foi remarcada para março de 1979. 

 Em meio às atribuições acadêmicas, não me atentei para o fato de que o título do trabalho submetido à ABTCP era praticamente idêntico ao da tese. Ao incluir a informação de trabalho publicado no memorial, cometi um erro crucial: a tese deixava de ser inédita, requisito legal para o título.

 Um dos professores da banca, atento aos detalhes, identificou a falha e a comunicou aos demais. Minha justificativa, baseada na mudança da data da defesa, não foi aceita. Alegou que eu deveria ter retirado o trabalho do congresso, uma medida que, em minha distração, não considerei.

 O concurso prosseguiu, e fui reprovado por dois membros da banca, que me atribuíram a nota 6,5, abaixo da nota mínima de 7,0. Os outros três professores me avaliaram com notas entre 9,0 e 10,0, resultando em uma média final de 8,4. Final feliz: aprovado! Apesar do aborrecimento, reconheci a validade da posição dos dois colegas, com quem mantive uma amizade duradoura.

 
Análise Crítica (Gemini/IA)

 O texto "Percalços da Livre Docência" narra um episódio marcante na carreira do autor, revelando os desafios e a complexidade do processo de obtenção do título de Livre Docente na ESALQ na década de 1970. Através da narrativa pessoal, o autor nos leva a refletir sobre a importância da atenção aos detalhes, a ética na academia e a superação de obstáculos.

Análise dos pontos fortes:

 * Descrição detalhada do processo: O autor descreve minuciosamente as etapas do concurso de Livre Docência, proporcionando um panorama claro e informativo do processo.

 * Narrativa pessoal e honesta: O autor compartilha suas experiências e erros de forma aberta e transparente, revelando a vulnerabilidade e os desafios enfrentados durante o concurso.

 * Reflexão sobre a ética na academia: O texto aborda a importância da integridade e da observância das normas na pesquisa acadêmica, destacando a relevância da originalidade dos trabalhos científicos.

 * Superação de obstáculos: A narrativa demonstra a capacidade do autor de superar os obstáculos e aprender com os erros, culminando na conquista do título de Livre Docente.

 * O texto mostra como o autor lida com a situação, e como ele entende a decisão dos avaliadores.

Possíveis pontos de aprofundamento:

 * Seria interessante explorar mais a fundo as normas e regulamentos que regiam o concurso de Livre Docência na época, e como elas evoluíram ao longo do tempo.

 * O autor poderia detalhar mais sobre a relação com os membros da banca examinadora, e como o episódio influenciou sua trajetória acadêmica.

 * Poderia ser explorado as diferenças do processo de Livre docência da década de 70, com o processo atual.

Considerações finais:

"Percalços da Livre Docência" é um texto que nos convida a refletir sobre a importância da ética, da atenção aos detalhes e da perseverança na carreira acadêmica. A narrativa destaca a complexidade do processo de obtenção do título de Livre Docente e a importância de aprender com os erros e superar os desafios.

 

MINHAS ORIENTADAS

 Dentre meus orientados, cinco eram engenheiras florestais, fato que evidenciava a crescente participação feminina em uma profissão antes predominantemente masculina. Notavelmente, elas demonstravam dedicação e motivação excepcionais, apesar das perspectivas futuras incertas, especialmente no que tange à atuação em empresas de celulose e papel, cujos campos eram tradicionalmente restritos a engenheiros químicos.

 Duas de minhas orientadas realizaram a etapa experimental de suas pesquisas nos laboratórios da Aracruz Celulose (posteriormente Fibria e, atualmente, Suzano), entre 1980 e 1990, principal exportadora de celulose sulfato branqueada de eucalipto na época.

 Ambas contaram com o valioso apoio científico de engenheiros da empresa, portadores de título de doutor. Devido à exigência de frequência nas aulas de pós-graduação, os trabalhos foram desenvolvidos durante as férias escolares de julho e dezembro-fevereiro. É importante ressaltar que todas as despesas de deslocamento e permanência foram integralmente custeadas pela empresa.

 Um episódio digno de registro ocorreu com a primeira delas. Os resultados de sua pesquisa mostraram-se tão promissores que a empresa decidiu utilizá-los em materiais de divulgação das qualidades da celulose branqueada de eucalipto em eventos técnicos na Europa. Para tanto, seu coorientador, engenheiro da empresa, consultou-me sobre a necessidade de autorização, considerando o possível impacto sobre a dissertação a ser defendida. 

 Como a dissertação não precisava ser totalmente inédita no momento da defesa, concedemos a autorização. Felizmente, o material utilizado no evento técnico da empresa, com excelentes resultados, não entrou em conflito com a dissertação, que foi defendida em dezembro de 1986.  

 
Análise Crítica (Gemini/IA)

 O texto "Minhas Orientadas" oferece uma análise perspicaz sobre a crescente participação feminina na engenharia florestal e os desafios enfrentados por essas profissionais em um setor tradicionalmente dominado por homens. Através de relatos pessoais, o autor destaca a dedicação e a motivação excepcionais de suas orientadas, bem como a importância do apoio e da colaboração para o sucesso de suas pesquisas.

Análise dos pontos fortes:

 * Relevância social: O texto aborda a questão da igualdade de gênero no ambiente profissional, destacando a importância da participação feminina na engenharia florestal e em áreas afins.

 * Valorização da colaboração: O autor destaca a importância da colaboração entre a academia e a indústria, evidenciando os benefícios da parceria entre a ESALQ e a Aracruz Celulose para o desenvolvimento das pesquisas.

 * Ética e responsabilidade: O episódio da utilização dos resultados da pesquisa em materiais de divulgação da empresa demonstra a preocupação do autor com a ética e a responsabilidade na divulgação de informações científicas.

 * O texto evidencia a importância do apoio e da colaboração para o sucesso das pesquisas.

Possíveis pontos de aprofundamento:

 * Seria interessante explorar mais a fundo os desafios específicos enfrentados pelas mulheres na engenharia florestal, como a discriminação e a falta de oportunidades de ascensão profissional.

 * O autor poderia detalhar mais sobre os resultados das pesquisas realizadas pelas orientadas, e como elas contribuíram para o avanço do conhecimento na área de celulose e papel.

 * Poderia ser explorado como era o mercado de trabalho para mulheres engenheiras florestais na época, e como ele evoluiu com o passar dos anos.

Considerações finais:

"Minhas Orientadas" é um texto que celebra a conquista das mulheres na engenharia florestal e destaca a importância da colaboração e da ética na pesquisa científica. A narrativa serve como um testemunho do talento e da dedicação das mulheres na área, e como um incentivo para que mais mulheres sigam carreira na engenharia florestal e em outras áreas STEM.

 

AULA DE SILVICULTURA PRÁTICA

 Corria a ano de de 1967. Walter Suiter Filho, meu colega e eu éramos admitidos junto a Cadeira de Silvicultura da ESALQ. Ele para responder pela área de produção e tecnologia de sementes florestais e eu pela área de química da madeira associada a tecnologia  de celulose e papel.

  Já eram docentes, professor catedrático Helládio de Amaral Mello( silvicultura geral), Ronaldo Algodoal Guedes Pereira (professor de tecnologia de celulose e papel), Antonio Paulo Mendes Galvão ( professor de desdobro e tratamento da madeira), João Walter Simões ( professor de manejo florestal) e Mario Ferreira (professor de melhoramento florestal). Professores Helládio e Ronaldo respondiam pelas aulas teóricas, duas horas por semana para duas turmas de 100 alunos cada. 

 Os demais, de forma intercalada, atendiam oito turmas por semana com 25 alunos cada. Dr.Helládio defendia a necessidade de uma visão holística da equipe e escalava todos, independentemente da área e especialização, para práticas que iam de viveiro de mudas até colheita florestal. Além disso todos eram obrigados a acompanharem as aulas teóricas. Confesso que passei por maus bocados pois nunca me interessei por assuntos além de química analítica no início da vida acadêmica e química de produtos florestais quando  admitido como professor. Pouco tinha aproveitado de  outras disciplinas na diversificação em silvicultura que frequentei em 1966.

 Que enrascada!!! A solução foi me valer de duas saídas estratégicas: a primeira me valendo da experiência adquirida como professor de cursinho no tempo da graduação e a segunda me valendo das anotações das aulas do professor João Walter Simões as quais seguia milimetricamente. 

 Felizmente os acadêmicos da época pouco se interessavam pela disciplina e as curiosidades eram mínimas. Por incrível que possa parecer era considerado um ótimo professor. A justificativa era porque as aulas eram super objetivas, sem digressões e exatamente dentro do horário previsto.

 
Análise Crítica (Gemini/IA)

 O texto "Aula de Silvicultura Prática" narra um período desafiador na carreira do autor, quando, recém-contratado como professor na ESALQ, precisou ministrar aulas práticas de silvicultura, área na qual não possuía expertise. A narrativa revela a importância da adaptabilidade, da criatividade e da humildade no ambiente acadêmico.

Análise dos pontos fortes:

 * Honestidade e vulnerabilidade: O autor admite suas limitações e dificuldades com franqueza, o que torna a narrativa autêntica e relacionável.

 * Estratégias de superação: O texto destaca a capacidade do autor de encontrar soluções criativas para lidar com a situação, como recorrer à sua experiência como professor de cursinho e utilizar as anotações de um colega.

 * Reflexão sobre a prática docente: A narrativa convida à reflexão sobre os desafios da docência, a importância da preparação e a necessidade de se adaptar às diferentes demandas do ensino.

 * O texto mostra a importância de um trabalho em equipe, e como isso pode influenciar no resultado final.

Possíveis pontos de aprofundamento:

 * Seria interessante explorar mais a fundo as estratégias pedagógicas utilizadas pelo autor para tornar as aulas objetivas e interessantes para os alunos.

 * O autor poderia detalhar mais sobre a dinâmica da equipe de professores da Cadeira de Silvicultura, e como a visão holística do Dr. Helládio influenciou a prática docente.

 * Poderia ser explorado o impacto que esse tipo de experiencia teve na vida profissional do autor, e como ele usou isso para se tornar um professor melhor.

Considerações finais:

"Aula de Silvicultura Prática" é um texto que celebra a capacidade de superação e a importância da humildade no ambiente acadêmico. A narrativa destaca a importância da adaptabilidade e da criatividade na prática docente, e como a colaboração e o apoio dos colegas podem ser fundamentais para o sucesso profissional.

 
PROVA EM BRANCO

 Em análises químicas, a "prova em branco" é um ensaio feito em paralelo na ausência da substância problema e passa por todos os procedimentos da amostra real. O objetivo da prova em branco é corrigir interferências, identificar impurezas dos reagentes, detectar contaminações do ambiente, entre outros fatores.

 Na disciplina de Química da Madeira, a avaliação dos alunos do curso de Ciências Florestais era composta por: provas escritas com questões dissertativas e de múltipla escolha, trabalhos práticos em laboratório envolvendo análise de componentes da madeira (celulose, lignina, etc.) e testes de propriedades físicas e químicas, além de tarefas extraclasse como elaboração de relatórios e pesquisas bibliográficas.

 De uma maneira quase generalizada os alunos mostravam relativa dificuldade em assuntos envolvendo Química Orgânica. Para melhorar o entendimento, com frequência nos valíamos de parênteses para uma recordação em aspectos relativos a essa matéria antes seguirmos com o curso norma da disciplina Química da Madeira.

 Periodicamente interrompíamos a aula e pedimos para os alunos se valerem de uma folha de caderno para uma prova surpresa. As questões nessa oportunidade eram realmente complexas e de difícil resposta. Ante a reclamação generalizada justificávamos dizendo: Calma. Trata-se uma “prova em branco” no sentido literal da palavra. Quem não souber as respostas corretas, deve inventá-las. Era notável a criatividade dos alunos, independentemente dos zeros aplicados.

 
Análise Crítica (Gemini/IA)

 O texto "Prova em Branco" narra uma estratégia pedagógica inusitada utilizada pelo autor para avaliar a criatividade e o raciocínio dos alunos em sua disciplina de Química da Madeira. Através da analogia com a "prova em branco" utilizada em análises químicas, o autor propõe um desafio que foge do convencional, incentivando os alunos a inventarem respostas para questões complexas de Química Orgânica.

Análise dos pontos fortes:

 * Criatividade na avaliação: A proposta da "prova em branco" como exercício de criatividade demonstra uma abordagem inovadora e original na avaliação dos alunos.

 * Estímulo ao raciocínio: Ao invés de buscar respostas corretas, os alunos são desafiados a exercitar o raciocínio e a capacidade de improvisação, habilidades importantes para a vida profissional.

 * Humor e leveza: A narrativa utiliza o humor para desmistificar a dificuldade da Química Orgânica, criando um ambiente de aprendizado mais leve e descontraído.

 * O texto mostra como o autor buscava novas formas de avaliação, e como ele buscava engajar os alunos.

Possíveis pontos de aprofundamento:

 * Seria interessante explorar mais a fundo os resultados da "prova em branco". Quais foram as respostas mais criativas e inesperadas? Como o autor avaliou a qualidade das invenções dos alunos?

 * O autor poderia detalhar mais sobre a relação entre a "prova em branco" e o aprendizado da Química Orgânica. Como essa atividade contribuiu para o desenvolvimento do entendimento dos alunos sobre a matéria?

 * É interessante a analogia com a prova em branco na química, seria interessante detalhar como o autor chegou nessa analogia, e qual o impacto que ela causou nos alunos.

Considerações finais:

"Prova em Branco" é um texto que nos convida a refletir sobre a importância da criatividade e do raciocínio na educação. A narrativa destaca a capacidade do autor de inovar na prática docente, utilizando o humor e a analogia para tornar o aprendizado da Química Orgânica mais interessante e desafiador para os alunos.

 
DOUTOR BENEDITO

 No corpo técnico do Ipef, certa época tínhamos um engenheiro florestal cujo nome era Shiguinore. Envolvido com aspectos de campo tinha um contato estreito com funcionários do setor de sementes e manejo florestal. Certa época um desses funcionários passou a chamá-lo como “Chico Honório”. Quando alertado que deveria se referir ao engenheiro com mais respeito, não se fez de rogado e passou a denominá-lo “Dr. Francisco Honório”. Com todo respeito!

 Análise Crítica (Gemini/IA)

 A anedota "Doutor Benedito" nos transporta para o ambiente de trabalho do Ipef, onde a interação entre funcionários revela nuances de respeito, humor e a complexidade das relações interpessoais. A história, aparentemente simples, oferece uma rica análise sobre as dinâmicas sociais no local de trabalho.

O ponto central da narrativa gira em torno da mudança de tratamento do funcionário em relação ao engenheiro florestal Shiguinore. Inicialmente, o funcionário o chama de "Chico Honório", uma versão abrasileirada e informal do nome original. Ao ser alertado sobre a necessidade de maior respeito, o funcionário responde com uma formalidade exagerada, passando a se referir ao engenheiro como "Dr. Francisco Honório".

A anedota revela a tensão entre formalidade e informalidade no ambiente de trabalho. O funcionário, ao utilizar a forma "Dr.", ironiza a exigência de respeito, ao mesmo tempo em que a cumpre de maneira literal. A história nos leva a refletir sobre as diferentes formas de demonstrar respeito e como a comunicação pode ser interpretada de maneiras diversas.

A anedota também aborda a questão da identidade cultural. O nome "Shiguinore" sugere uma origem japonesa, e a abrasileiração do nome para "Chico Honório" pode ser interpretada como uma forma de aproximação ou como uma falta de consideração pela identidade do engenheiro. A resposta do funcionário, ao utilizar o "Dr.", pode ser vista como uma forma de reafirmar a distância hierárquica e cultural entre os dois.

Em resumo, "Doutor Benedito" é uma anedota que, através de uma narrativa concisa e bem-humorada, nos convida a refletir sobre as complexidades das relações interpessoais no ambiente de trabalho. A história aborda temas como respeito, humor, identidade cultural e a tensão entre formalidade e informalidade.

 
TECNOLOGIA DOCE

 No Laboratório de Química Celulose e Energia do LCF/ESALQ há uma autoclave com 20 litros de capacidade para a produção de celulose a partir de cavacos de madeira. Semelhante a uma panela de pressão atinge, quando em uso, temperaturas máximas de 180 a 200 graus centígrados. Porém o termostato permite regulagens desde 100 graus.

 Na década de 1980 era operada por dois ou três funcionários e alguns estagiários. Uma certa vez, após retornar da aula teórica de quatro horas ao laboratório observei que a autoclave estava aberta, lavada, porém ainda quente. Estranhei o fato porque não estava programado nenhum cozimento para aquele período. 

 Quando interrogados, os funcionários relutaram em dar uma explicação até que um deles se deu por vencido e confessou que tinham usado a autoclave para cozinhar “uma lata de leite condensado”. Acabava de ser descoberta uma nova alternativa para produção de doce de leite. Muito gostoso, por sinal.

 Análise Crítica (Gemini/IA)

 A anedota "Tecnologia Doce" é um relato leve e bem-humorado de um episódio curioso ocorrido em um laboratório de pesquisa. Através de uma narrativa simples e direta, o autor nos transporta para o ambiente acadêmico da ESALQ, onde a rotina científica é inesperadamente interrompida por uma pitada de doçura.

A força da narrativa reside na quebra de expectativa. O leitor, assim como o autor, é levado a crer que a autoclave seria utilizada para um experimento científico, seguindo o propósito original do equipamento. No entanto, a revelação de que a autoclave foi usada para cozinhar leite condensado causa surpresa e diverte.

A anedota também nos permite refletir sobre a criatividade humana e a capacidade de improvisação. Diante de um equipamento disponível e da vontade de saborear um doce de leite, os funcionários do laboratório encontraram uma solução inusitada. A história nos mostra que, por vezes, a ciência e a culinária podem se encontrar de maneiras inesperadas.

Apesar do tom leve e divertido, a anedota também nos leva a questionar os limites da utilização de equipamentos de pesquisa. Afinal, seria ético utilizar um equipamento científico para fins culinários? A história não aprofunda essa questão, mas deixa espaço para reflexões sobre o uso responsável da tecnologia.

Em resumo, "Tecnologia Doce" é uma anedota bem construída, que diverte e nos convida a refletir sobre a criatividade humana e os limites da utilização da tecnologia. A história nos mostra que, por vezes, a ciência e a culinária podem se encontrar de maneiras inesperadas, resultando em descobertas saborosas.

 
CHEGOU ATRASADO 

 As aulas práticas de Silvicultura, no início da década de 1970, tinham duração de quatro horas e eram ministradas no viveiro de mudas ou no campo. Quando conveniente ou necessário, a primeira parte da aula era oferecida em sala de aula, com duração média de uma hora. O Prof. João Simões, responsável por duas turmas, era extremamente exigente quanto à pontualidade. Permitia um atraso máximo de cinco minutos, após os quais trancava a porta. O aluno retardatário precisava aguardar do lado de fora e recorrer, posteriormente, às anotações dos colegas, podendo acompanhar a aula a partir desse ponto. Quando a parte introdutória excedia o tempo previsto, o professor concedia um intervalo de dez a quinze minutos.

Em certa ocasião, o Prof. João, então chefe do Departamento, precisou se atrasar vinte minutos para tratar de assuntos administrativos. Ao retornar à sala de aula, foi surpreendido por uma reação dos alunos: a porta estava trancada e só foi aberta após insistentes apelos do professor. Apesar de sua autoridade como professor e chefe, ele levou a situação com bom humor e não houve consequências mais sérias.

 Análise Crítica (Gemini/IA)

 A análise crítica do texto revela alguns pontos interessantes sobre a dinâmica de poder e as relações interpessoais no contexto acadêmico da época:

Pontos Positivos:

 * Humanização da figura do professor: Apesar de sua rigidez inicial, o Prof. João Simões demonstra flexibilidade e bom humor ao lidar com a "rebelião" dos alunos. Essa atitude humaniza sua figura e o distancia do estereótipo do professor autoritário.

 * Dinâmica de poder invertida: O episódio em que os alunos trancam a porta da sala de aula representa uma inversão da dinâmica de poder tradicional. Essa ação, embora desafiadora, demonstra a capacidade dos alunos de se organizarem e expressarem sua insatisfação.

 * Humor como ferramenta de resolução: O fato de o professor levar a situação na brincadeira evita um conflito maior e contribui para um ambiente mais leve e descontraído. O humor se mostra, nesse caso, como uma ferramenta eficaz de resolução de conflitos.

 * Contexto histórico: O texto oferece um vislumbre do contexto histórico da educação na década de 1970, com suas particularidades e costumes.

Pontos Negativos/Questionamentos:

 * Rigidez excessiva: A exigência de pontualidade do professor, com a punição de trancar a porta, pode ser vista como excessivamente rígida e pouco flexível. Essa atitude pode ter gerado um ambiente de tensão e ansiedade entre os alunos.

 * Falta de diálogo: O texto não menciona nenhuma tentativa de diálogo entre o professor e os alunos para discutir a questão da pontualidade. A falta de comunicação pode ter contribuído para o acúmulo de frustração e o consequente ato de rebeldia.

 * Possível desrespeito: Apesar de ter levado a situação com bom humor, o ato dos alunos pode ser interpretado como um desrespeito à autoridade do professor. A questão que se coloca é se essa atitude foi justificada ou se ultrapassou os limites da brincadeira.

 * Falta de detalhes: O texto não oferece muitos detalhes sobre o contexto da situação. Por exemplo, não sabemos se o atraso do professor foi comunicado aos alunos com antecedência ou se eles se sentiram injustiçados de alguma forma.

Considerações finais:

O texto nos convida a refletir sobre a importância do equilíbrio entre autoridade e flexibilidade na educação. Ao mesmo tempo em que a disciplina é importante, é fundamental que os professores sejam capazes de dialogar com os alunos e adaptar suas exigências às diferentes situações. Além disso, o episódio nos mostra que o humor pode ser uma ferramenta valiosa para resolver conflitos e criar um ambiente mais leve e acolhedor


SORRISO E CHOQUE

 No início de dado semestre, na aula teórica de Química da Madeira, um aluno em particular destacava-se na turma. Não pelas perguntas perspicazes ou pela participação entusiasmada, mas por sinais de desaprovação que sua cabeça fazia a cada nova informação compartilhada.

Nas primeiras semanas, ignorei. Atribuí a uma possível timidez, uma dificuldade inicial com a matéria ou até mesmo uma personalidade mais reservada. No entanto, a persistência daquela expressão e dos gestos sutis começou a se tornar uma nota dissonante na harmonia da sala de aula. Era como se cada conceito fosse recebido com uma silenciosa e cética objeção.

As aulas seguiam e lá estava ele, no fundo da sala, o sorriso enigmático pairando em seu rosto, a cabeça balançando em uma muda reprovação. A atmosfera da aula, que eu me esforçava para manter estimulante e acolhedora, era sutilmente tensionada por aquela presença constante.

Certo dia, enquanto explicava as reações da celulose e das hemiceluloses, a gota d’água transbordou. Aquele meneio de cabeça, acompanhado daquele meio sorriso, pareceu mais carregado de escárnio do que de costume. 

Interrompi a explicação, o silêncio preencheu a sala. Voltei-me diretamente para o aluno, cujo nome ainda não havia fixado completamente. Caminhei lentamente entre as carteiras até parar a poucos metros dele.

Com um tom de voz calmo, mas firme, eu disse: "Você me parece um jovem com algum problema . Observo suas reações desde o início do semestre, e a única explicação que encontro para essa sua postura constante de desaprovação é que você deve ser uma vítima. Sim, uma vítima que, pelas suas reações consistentes e automáticas, tudo indica que herdou esse comportamento de seus pais."

O silêncio na sala tornou-se extremamente denso. Os outros alunos observavam a cena com uma mistura de surpresa e apreensão. O jovem, pego de surpresa, pareceu petrificado. O sorriso sarcástico desapareceu abruptamente, substituído por uma expressão indecifrável.

Ele não disse nada. Nenhum protesto, nenhuma negação, nenhuma justificativa. Apenas um olhar que parecia carregar um peso invisível.

Virei-me e retornei ao quadro negro, retomando a explicação como se nada tivesse acontecido. O ritmo da aula seguiu, mas a atmosfera havia se transformado. A tensão deu lugar a uma quietude reflexiva.

Aquele aluno nunca mais exibiu aquele sorriso nem fez os sinais de desaprovação. Ele permaneceu um tanto reservado, mas sua postura em relação à aula mudou drasticamente. Começou a prestar mais atenção, a tomar notas e, eventualmente, até a fazer perguntas pertinentes.

Nunca soube ao certo o que minhas palavras desencadearam naquele jovem. Talvez tenha sido o choque de ser confrontado publicamente, talvez a sugestão de uma possível dinâmica familiar, ou talvez simplesmente o fato de se sentir visto de uma maneira diferente.

As aulas de Química da Madeira seguiram seu curso, mas aquela interação específica permaneceu como uma lembrança marcante da complexidade humana que reside até mesmo nos cantos mais inesperados de uma sala de aula.

 Análise Crítica (Gemini/IA)

 A história das aulas de Química da Madeira levanta pontos cruciais para uma análise crítica, especialmente no que tange à conduta do professor. Embora a narrativa apresente uma resolução aparentemente positiva, o método empregado pelo professor é, no mínimo, questionável do ponto de vista ético e pedagógico.

Pontos Positivos da Narrativa:

 * Sensibilidade do Professor (tardia): Apesar da abordagem controversa, o professor demonstra ter percebido que a atitude do aluno poderia ser um reflexo de algo mais profundo, uma "dor silenciosa". Essa sensibilidade, embora tardia, o impulsiona a intervir.

 * Resultado (aparentemente) positivo: A mudança de comportamento do aluno após a intervenção do professor sugere que, de alguma forma, a abordagem atingiu um ponto sensível e o levou a reconsiderar sua postura.

Pontos Negativos e Questões Éticas:

 * Julgamento e generalização: O professor, com base em observações superficiais do comportamento do aluno, formula um julgamento sobre sua vida familiar ("tudo indica que herdou esse comportamento de seus pais"). Essa generalização é perigosa e desprovida de qualquer evidência concreta.

 * Diagnóstico amador e público: O professor assume o papel de psicólogo amador, diagnosticando uma possível "vitimização" e "herança" de comportamento em um ambiente público, expondo o aluno à atenção e possível constrangimento dos colegas.

 * Invasão da privacidade: A afirmação sobre a possível influência dos pais invade a esfera privada do aluno e de sua família, extrapolando os limites da relação professor-aluno e da competência profissional do educador.

 * Tom acusatório e confrontacional: A frase "você deve ser uma vítima" soa acusatória e coloca o aluno em uma posição defensiva, mesmo que o professor não tenha tido essa intenção. A abordagem confrontacional em público raramente é a mais eficaz para lidar com questões comportamentais.

 * Falta de diálogo e escuta: O professor opta por uma intervenção direta e interpretativa, sem antes tentar estabelecer um diálogo individual com o aluno para compreender as razões por trás de seu comportamento. A escuta ativa é uma ferramenta fundamental na relação pedagógica.

 * Manipulação emocional: A abordagem do professor parece ter como objetivo chocar ou desestabilizar emocionalmente o aluno para provocar uma mudança. Essa manipulação, mesmo que com intenções positivas, levanta sérias questões éticas.

 * Exemplo questionável: O sucesso da intervenção não justifica o método. Apresentar essa abordagem como uma estratégia pedagógica válida seria problemático, pois incentiva julgamentos precipitados e invasão da privacidade dos alunos.

Alternativas Mais Éticas e Pedagógicas:

 * Conversa individual: O professor poderia ter chamado o aluno para uma conversa particular, expressando sua preocupação com o comportamento e buscando entender as razões por trás dele.

 * Observação mais aprofundada: Em vez de um diagnóstico imediato, o professor poderia ter observado o aluno em diferentes contextos, buscando padrões e tentando entender a função daquele comportamento.

 * Busca por apoio profissional: Se o professor percebesse que o comportamento do aluno indicava questões mais profundas, o mais ético seria encaminhá-lo ao serviço de apoio psicopedagógico da instituição, caso existisse.

 * Foco no comportamento em sala de aula: O professor poderia ter se limitado a abordar o impacto do comportamento do aluno no ambiente da aula, sem fazer inferências sobre sua vida pessoal.

Conclusão:
Embora a história relate uma mudança positiva no comportamento do aluno, o procedimento adotado pelo professor é eticamente questionável e pedagogicamente arriscado. A extrapolação do papel de educador para o de diagnosticador amador, a invasão da privacidade e o tom acusatório não são condutas recomendáveis. O sucesso isolado da intervenção não valida o método. Uma abordagem mais ética e profissional envolveria diálogo, escuta, observação cuidadosa e, se necessário, o encaminhamento para profissionais especializados. A relação professor-aluno deve ser pautada pelo respeito, pela empatia e pela busca por compreender o indivíduo em sua totalidade, mas sempre dentro dos limites da atuação profissional do educador.


PEDIDO DE CASAMENTO

 Como professor de Química da Madeira, no início de dado semestre uma aluna se destacava nas aulas. Muito aplicada e inteligente sentava-se sempre na primeira fileira das carteiras.
Era a mais interessada em fazer perguntas, questionar diversos tópicos e, com frequência pedir maiores detalhes de dado assunto.

Com o passar do tempo os colegas, principalmente os menos interessados na matéria, passaram a fazer manifestações de desagrado. Como a situação estava saindo do controle, em dado momento resolvi intervir e sem repreedê-la solicitei moderação nas suas intervenções. A aluna entre surpresa e talvez ofendida trancou-se num mutismo e expressão  de ter ficado extremamente irritada.

Percebi a inadequação da advertência.
Como era um professor brincalhão já conhecido, resolvi de imediato resolver o impasse.

Ajoelhei-me diante da aluna e, candidamente, pedi desculpas dizendo que a amava e que a pediria em casamento se já não fosse casado. A classe caiu na gargalhada inclusive aluna. Sem dizer uma palavra respondeu afirmativamente com a cabeça e as aulas voltaram à normalidade com a aluna moderando suas intervenções.

 Análise Crítica (Gemini/IA)

 A história apresenta uma situação peculiar em sala de aula e uma resolução ainda mais incomum. Em sua análise crítica, podemos destacar tanto os pontos positivos da narrativa quanto levantar questionamentos sobre a abordagem pedagógica e as implicações da resolução apresentada.

Pontos Positivos:

 * Destaque da Aluna Aplicada: A história inicia bem ao apresentar uma aluna engajada e curiosa, um elemento positivo em qualquer ambiente de aprendizado. A descrição de sua participação ativa na aula estabelece um cenário de interesse e potencial.

 * Reconhecimento do Erro pelo Professor: Um ponto forte da narrativa é a autopercepção do professor ao notar a inadequação de sua advertência. Essa capacidade de reconhecer um erro é crucial para um educador.

 * Criatividade na Resolução: A atitude do professor de resolver o impasse de forma inesperada e bem-humorada demonstra criatividade e a busca por uma solução rápida para uma situação delicada. A reação da turma, incluindo a aluna, sugere que a abordagem foi eficaz em dissipar a tensão.

 * Retorno à Normalidade (Aparente): O fato de as aulas voltarem à normalidade e a aluna moderar suas intervenções indica um sucesso imediato na resolução do problema.

Pontos de Questionamento e Críticas:

 * Abordagem Pedagógica Questionável: A intervenção inicial do professor, mesmo que bem-intencionada, de pedir moderação a uma aluna interessada pode ser vista como problemática. Desestimular a participação de alunos engajados pode prejudicar seu aprendizado e enviar uma mensagem negativa sobre a curiosidade e o questionamento em sala de aula.

 * Resolução Inadequada e com Implicações: A forma como o professor resolve o problema é, no mínimo, controversa. Ajoelhar-se e declarar "amor" e um "pedido de casamento" (mesmo que em tom de brincadeira) ultrapassa os limites profissionais da relação professor-aluno. Essa atitude pode ser interpretada como inapropriada, desrespeitosa e até mesmo constrangedora para a aluna, apesar de sua reação ter sido positiva na narrativa.

 * Normalização de Comportamentos Inadequados: A história parece normalizar uma atitude do professor que, em um contexto real, poderia gerar desconforto, acusações de assédio ou má conduta. A resolução através de uma "brincadeira" pode minimizar a seriedade da situação e não abordar as causas subjacentes do descontentamento dos outros alunos.

 * Impacto a Longo Prazo: Embora a situação tenha se acalmado no momento, a história não explora o possível impacto a longo prazo dessa interação na relação professor-aluno e na dinâmica da turma. A aluna pode se sentir desconfortável com a lembrança do ocorrido, e os outros alunos podem ter aprendido que interrupções e reclamações podem ser resolvidas de maneiras pouco convencionais.

 * Falta de Abordagem da Raiz do Problema: A história foca na resolução do conflito imediato, mas não aborda a questão da falta de interesse de alguns alunos e como o professor poderia engajá-los mais na matéria. A solução encontrada é paliativa e não educativa no sentido de promover o respeito e a valorização do aprendizado entre todos os alunos.

 * Implicações de Gênero e Poder: A dinâmica de um professor homem se ajoelhando diante de uma aluna mulher, mesmo em tom de brincadeira, carrega consigo questões de gênero e da relação de poder inerente à sala de aula. Essa ação pode ser interpretada de maneiras diversas e levantar discussões sobre limites e profissionalismo.

Conclusão:
A história apresenta uma narrativa com um ritmo interessante e uma resolução criativa para um impasse em sala de aula. No entanto, sob uma análise crítica, a abordagem pedagógica inicial e, principalmente, a solução encontrada pelo professor levantam sérios questionamentos éticos e pedagógicos. Embora a intenção do professor fosse resolver a situação de forma leve, a normalização de um comportamento inadequado e a falta de uma abordagem mais educativa para o problema do desinteresse dos outros alunos são pontos fracos da narrativa. A história serve como um alerta para a complexidade das interações em sala de aula e a importância de soluções que sejam não apenas imediatas, mas também pedagógica e eticamente sólidas.


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