Coração de Ouro !

     A separação foi terrível. Amou a mulher mais que a si mesmo. Pensou que ficaria louco ao perceber que ficara sozinho,  sozinho para criar e educar três filhos homens que acima de tudo amavam a mãe. A perda de uma esposa verdadeiramente amada  o desiludiu para um novo casamento. Não resistiria a uma nova bateria de tristezas, sofrimentos e saudades. Morreria viúvo, como de fato morreu.
     Educou os filhos como ninguém, com muito cuidado, firmeza e amor.
     Sua bondade era conhecida por todos que tiveram a ventura de conhecê-lo. Sempre bem no aspecto financeiro, ajudava, incógnito, asilos, hospitais e orfanatos. Bom conselheiro, era procurado por amigos, comerciantes, jovens políticos, para análise de uma idéia, de um negócio, de um desentendimento; a todos aconselhava e amparava da melhor forma possível.
     Fazendeiro rico, nunca lhe faltaram pretendentes. A todas desiludia de imediato ao menor sinal de um clima de relação mais ou menos duradoura ou de casamento.
     Morava em sua fazenda mas duas ou três vezes por mês viajava algumas centenas de quilômetros para visitar as mulheres de um prostíbulo de uma cidade distante.
     A todas tratava com respeito, levava presentes e até mesmo pagava médico e remédios para algumas delas. Sua visita era esperada com ansiedade; a chegada era esperada alegremente e a estada era uma festa. Nesses dias a comida era de primeira, mulheres e visitante  almoçavam na mesma casa.
     Ele fazia questão de pagar todas as despesas. Era um frequentador querido e respeitado.
     Numa de suas visitas ficou sabendo que havia entre as mulheres uma menina de 18 anos, há mais de dois na mesma profissão, que estava desesperada, aflita, desejando abandonar aquela vida. Sentia-se jovem e não se conformava com sua situação.
     Encantou-se com a beleza da moça. Ao falar com ela, e sentindo que havia ali um real desejo de mudar de vida, o fazendeiro prometeu ajudá-la. Ficou sabendo que ela já era mãe. Fora enganada por um namorado e a família simplesmente a abandonara.
    Conseguiu, com um fazendeiro seu vizinho, um trabalho no escritório da fazenda, pois era datilógrafa, escrevia e lia muito bem, além de já haver trabalhado em uma ou duas firmas.
     Tudo foi esquecido; nada, mas nada mesmo foi contado a ninguém, nem a seus três filhos, sobre a situação anterior de sua protegida. Ela ficou conhecida como filha de um casal amigo, do sul do país, muito distante dali. Ficara órfã e viúva no mesmo dia : seus pais e seu marido morreram no mesmo acidente rodoviário. Mentira forjada por seu protetor.
     Sua palavra era lei, por sua honestidade e por seu caráter. A história sobre a moça não foi contestada por ninguém. Ela poderia ficar sossegada porque ele não falaria em situação nenhuma a verdade. Em situação nenhuma !
     Dois anos se passaram e seu filho mais velho, agora com 26 anos, seu braço direito nos negócios, transmitiu-lhe seu desejo de se casar com a moça com quem namorava há mais de quinze meses. Iria apresentá-la à família dentro de alguns dias. Ficariam noivos e marcariam o dia do enlace.
     Ela, a sua protegida, era a noiva. O velho já sabia do namoro há algum tempo.
     A festa foi programada e todos os fazendeiros e colonos da região foram convidados.
     Percebendo o filho realmente apaixonado, o pai fez questão de que a festa ficasse marcada como um dos melhores momentos de sua vida na sua querida fazenda.
     O casamento foi festejado por todos numa alegria sem fim.
     Com os olhos marejados abraçou a nora como se abraça a uma filha.
     Nunca, mas nunca mesmo, alguém ficou sabendo algo sobre a vida anterior da noiva; somente eu, que escrevi a história, e você, caro leitor, que gentilmente a leu.

8 de agosto de 2010
Dia dos Pais

N. A . : história de pura ficção.
 

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