"NS 88"

Dezembro de 2013
Natal

     O casal de velhos, três filhos e quatro netos. Família pequena, simples, onde todos viviam de seus próprios trabalhos e recursos; não havia nem ricos nem pobres. Somente o neto mais velho possuía condução própria, pois havia concluído o curso superior e estava bem empregado. Ele era o exemplo para todos os primos e tios.
     Suas virtudes eram sempre destacadas: inteligente, esforçado, trabalhador, bom salário, além de ser visto como muito bom moterista, corria muuto e nunca havia sofrido um acidente, nem sequer um arranhão na pintura do carro.
     Sempre que havia necessidade de uma condução mais rápida e muito "barata", todos os familiares recorriam ao parente motorista que não admitia nunca ficar atrás de qualquer outro veículo, tanto nas ruas como nas estradas.
     Alguns parentes tinham até medo de viajar em seu carro mas, em nome da economia, suportavam passar por alguns momentos de sofrimento. O coração disparava mas, em compensação, o bolso permanecia calmo e feliz. Em caso de pressa ou urgência, um acidente em casa, um trabalho de parto, etc, até os vizinhos o requisitavam. Ligava o pisca-alerta e usava a buzina, dando a impressão de uma ambulância ou de um carro de polícia; todos abriam caminho e ele, feliz, chegava rápido a seu destino.
     Com os avós no carro, o motorista procurava chegar à estação rodoviária a fim de embarcá-los às onze horas para uma cidade interiorana. Dez horas e quarenta e cinco minutos, ainda longe do lugar desejado, um carro cuja chapa era "NS 88", transitava vagarosamente e sem dar passagem, era lerdo quuando os faróis abriam e calmo demais no trânsito. Aquele motorista que nunca havia falhado e nem perdido o horário, não conseguiu chegar a tempo justamente porque aquele carro antigo, chapa "NS 88", o atrapalhara por mais de quinze quarteirões.
     Chegando ao ponto de partida dos ônibus e sabendo que aquele que levaria seus avós já havia partido, o nosso motorista, revoltado e muito nervoso, saiu na maior disparada para alcançá-lo. Depois de alguns minutos o trânsito ficou difícil e impraticável. O rapaz desceu do carro e foi ver o que tinha acontecido. O ônibus que ele havia perdido chocou-se com um caminhão sendo devorado completamente pelas chamas; o motorista e todos os passageiros morreram no local.
     Voltou e contou aos avós o acontecido, agradecendo a Deus, em voz baixa, a ação lerda do motorista do carro de chapa "NS 88". O avô, calmo e sorrindo, relatou ao neto que "NS 88" significava que seu número de sorte era mesmo o 44.
     - Mas era 88 ! - retrucou o jovem motorista.
- Mas desta vez foi sorte em dobro, para mim e para sua avó... - declarou o velho passageiro.

N.A. - conto de pura ficção.

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