ODE A TERRINHA
José Carlos Martins
(Zé do Joca)
I
Minha cidade era pequena e calma,
Era menor que o tempo de um suspiro.
Lá você descansava, lavava a alma;
Ia do Cambará ao Bom Retiro.
II
Algumas travessas e trânsito inexistente,
Era percorrida numa andança.
Com amor e sendo persistente,
Em cada esquina uma lembrança. 

III
Festas juninas, quadrilhas, fogueiras,
Barracas de sapé, festas do Padroeiro.
Alegrias, tristezas, alguns trancos.
Era  vida o ano inteiro.

IV
No esporte, só o futebol.
A política era "fogo no Arraial".
Na desgraça todos eram amigos;
Virava notícia quem ia para a Capital.

Colônia da Fazenda Santa Maria 
localizada no Cambará(*)

Capela da Santa Cruz, símbolo
do Bairro Bom Retiro(*)

V
Os trens das dez, das cinco, das quatro,
De carga, de gado, de passageiros,
Além de cortarem a cidade ao meio
Enganavam relógios e relojoeiros. 

VI
Algodão, café, fumo, cana,
Tudo era lavoura; indústria não havia.
Quintais grandes, ruas de terra.
Cidade santa, vida sadia.

VII
O tempo carregou tudo;
Lento, ligeiro, rápido, de roldão.
Só ficou a "Terrinha" do Cambará ao Bom Retiro.
Essa tenho presa na palma da minha mão.

(*) Telas pintadas pelo autor da Ode