AUGUSTO: Muito bem. Estamos nesta quarta-feira, 11 de setembro, às duas horas da tarde, na casa do mano José. Presentes também estão a Carmela e o Monteiro, 10 dias antes da reunião que será o II Encontro da Família Barrichello. Estamos fazendo esta gravação em complementação aquela primeira feita com o Alcides Barrichello e a segunda feita com o Olívio e a Mariquinha. Nós acabamos de ouvir as duas primeiras gravações e agora pedimos ao José para acrescentar alguma coisa...

JOSÉ: Primeiramente, o que me lembro de papai é de que ele morou em Minas. Logo depois foi morar na fazenda do Vicente do Amaral Mello em Rio das Pedras. Papai trabalhava na lavoura, e em seguida foi ser caixeiro de uma venda na estrada do bairro de Santo Antonio...

AUGUSTO: E essa era a venda do Antonio Gomes.

JOSÉ: Isso. Os proprietários eram Antonio e Ana Gomes que foram meus padrinhos de batismo. Eu nasci de sete meses e todos ficaram preocupados com minha situação... Fiquei dois meses em uma caixa de sapato forrada com algodão. Papai e mamãe ficaram com a família Gomes durante um certo tempo. Passados uns dois anos papai se estabeleceu em Rio das Pedras com um pequeno negocio de frutas. Era um armazém...

AUGUSTO: Na “rua de baixo”...

JOSÉ: Isso. Onde é a rua Rangel Pestana. Justamente nessa ocasião a vovó Ursulina... não, a Mardegan...

AUGUSTO: ... a vovó Luiza...

JOSÉ: A vovó Luiza é que emprestou 500 mil réis para papai se estabelecer. Mais adiante passou para a "rua de cima" que hoje é a Prudente de Moraes. Com os tios Jacó e João tinham um armazém e também tróles de aluguel que eram cuidados pelo tio João, o pai do Emílio. Assim os anos foram se passando e quando tio João faleceu, separaram os negócios e o tio Jacó se estabeleceu na esquina...e papai se estabeleceu ali no meio do quarteirão...

AUGUSTO: Em frente ao açougue do Pierete.

JOSÉ: Ao lado do Scroca. Papai e mamãe compraram o local e após alguns anos compraram as terras vizinhas, ali no fundo do armazém. Lembro-me muito bem que existia um cafezal muito grande do Donato Marino.

AUGUSTO: Isso mesmo. Era do Donato Marino, o avô da Carmela...

JOSÉ: Nessa época o Gusto foi com os padres, estudar em Rio Claro...

AUGUSTO: Justamente, nesse ano de 1923 ou 24, eu tinha mais ou menos dez anos, sai do grupo escolar e fui estudar em Rio Claro...

JOSÉ: Quando eu tinha onze ou doze anos papai e meu sogro fizeram uma viagem a Penápolis e lá compraram uma meia-fazenda com plantações de café...

AUGUSTO: Sim, papai e o Paschoal Limongi...

JOSÉ: Compraram a fazenda próxima à cidade e um ano depois deu uma geada muito forte e queimou todo o cafezal. Dai decidiram passar para a frente porque não dava mais para...

AUGUSTO: Então os velhos eram sócios: o velho Limongi e o velho Barrichello...

CARMELA: Viajaram 17 horas de trem...

JOSÉ: Justamente. Papai comentou que meu sogro tinha várias filhas e ele tinha vários filhos...

AUGUSTO: Se desse certo essa propriedade que beleza que seria.

JOSÉ: E assim as coisas seguiram... Depois o armazém passou a ter um grande movimento e eu nem cheguei a completar o quarto ano primário para ajudar papai e mamãe na venda .. no açougue... Precisava ir buscar porco no sitio...

AUGUSTO: Cortar capim.

JOSÉ: Cortar capim para os animais. Mamãe tinha as vacas..  

AUGUSTO: Tirava leite para vender.

JOSÉ: Mamãe tinha verdadeira adoração para fazer as coisas de casa... E assim foram se passando os anos... Em 1922 ou 23 nós tínhamos como empregado o Jacó Piva, o Froner... O Emílio Barichello era meninote e já ajudava na venda... Nessa época o governo passou a exigir mais rigor na contabilidade e apareceu em Rio das Pedras o Dr. Jorge Canaã que abriu um curso de guarda-livro. O curso teve cerca de quarenta inscrições. Alguns meses após os alunos se reduziram a quatro e ele não podia mais dar aula. Ele propôs para irmos a Piracicaba para terminar o curso que ele daria um certo desconto... Então nós íamos duas vezes por semana: eu, o Carmelindo Cortelazzi, o Gildo Treu..

AUGUSTO: E o Rafael Ponchio?

JOSÉ: Não, o Rafael Ponchio já estava cursando diretamente em Piracicaba... Em 1927 papai e mamãe nos prometeram, ao Jacinto e a mim, que se o armazém desse algum lucro eles nos dariam um automóvel. Isso realmente ocorreu e nós ganhamos um Chevrolet 29, de capota...

AUGUSTO: Era agente de automóveis em Rio das Pedras, o Archimedes Cortelazzi. Ele era da Ford...

JOSÉ: Não. Ele era da Chevrolet.

AUGUSTO: Chevrolet: Quem sabe tenham comprado dele.

JOSÉ: Sim... ele era pai do Alcindo... Lembro-me muito bem que ele tinha uma chapa de número 41... Naquela época era diretor da escola o Prof. Manoel da Costa Neves... Mais tarde papai comprou sessenta alqueires de terra do Marzagão... A família SanJuan residia no Sapezeiro. Papai propôs a eles entrar com o capital, montar um engenho e eles entravam com o serviço. Dai nasceu a sociedade com o engenho de pinga...

AUGUSTO: Barrichello e SanJuan. Em 1951 eles venderam a parte deles para nós.

JOSÉ: Em 1923 fiquei noivo. Naquela época vinham os viajantes e diziam que papai e mamãe deviam mandar um dos filhos para São Paulo que eles poderiam mandar muita coisa do interior para lá...

AUGUSTO: Para abrir um depósito de pinga...

JOSÉ: Eu já estava querendo casar...

AUGUSTO: E eu já estava formado na Escola Moraes Barros... Eu assumi a venda...

 JOSÉ: Justamente em fevereiro de 32 e pedi a Carmela em casamento num sábado de carnaval...

AUGUSTO: E se casaram em fins de 32... dez meses depois.

JOSÉ: Sim, pedi em casamento em fevereiro e nos casamos em dezembro. Dez meses depois. E fomos morar em São Paulo e abrimos um negócio para vender aguardente, aves e ovos, etc.

AUGUSTO: Depois você abriu um engarrafamento na Major Otaviano...

JOSÉ: Na Major Otaviano era armazém. Depois eu comprei um terreno na rua José Auer... Assim foi-se passando a vida. Em 1951 papai e mamãe fizeram as doações e resolveram mudar para São Paulo.

AUGUSTO: No ano que foi montada a usina...

JOSÉ: Em 1961 construí aqui na Paes de Barros onde estamos até hoje, com a graça de Deus.
( Fim da gravação)