COLETÂNEA LITERÁRIA

 

CAPÍTULO 12

 

Pureza – Querer – Razão – Realização – Reencontro – Relógio –

República – Renúncia – Reputação – Respeito – Retrocesso –

Revolução – Ricos – Rosas – Rui Barbosa – Santidade – Saudade –

Santidade – Semeador

 

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VIRGENS MORTAS ( Olavo Bilac)

Quando uma virgem morre, uma estrela aparece
Nova, no velho engaste azul do firmamento:
E a alma da que morreu, de momento, a momento,
Na luz da que nasceu palpita e resplandece.

Ó, vós, que no silêncio e no recolhimento
Do campo, conversais a sós, quando anoitece,
Cuidado! — o que dizeis, como um rumor de prece,
Vai sussurrar no céu, levado pelo vento...

Namorados, que andais, com a boca transbordando
De beijos, perturbando o campo sossegado
E o casto coração das flores inflamando,

 Piedade! Elas vêem tudo entre as moitas escuras...
Piedade! Esse impudor ofende o olhar gelado
Das que viveram sós, das que morreram puras!

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O acabrunhamento das forças não acabrunha a vontade. Crer é apenas a segunda potência; querer é a primeira. As montanhas proverbiais que a fé transporta nada são a par do que pode a vontade. A vontade embriaga. É permitido embriagar-nos com a nossa própria vontade. Esta embriaguez chama-se heroísmo. ( Victor Hugo)

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O coração tem razões que a própria razão desconhece. ( Pascal)

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A razão do melhor é sempre a mais forte. ( Victor Hugo)

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Em certos casos precisar provar que temos razão seria admitir que podemos estar enganados. ( Beaumarchais)

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Para realizar-se, a criatura tem que plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho. ( Provérbio chinês)

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O homem pode comer sozinho; dificil é edificar alguma coisa sem ajuda de alguém. ( Sabedoria Oriental)

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Partir é morrer um pouco... Há porém despedidas em que a dor da separação é  infinitamente compensada pela inefável alegria do reencontro que se prepara.
 (S. Tiago).

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O RELÓGIO ( Autor desconhecido)

Tenho o trabalho mais pesado que qualquer mortal, mas faço-o com mais facilidade porque ando um segundo de cada vez.

Tenho que fazer milhares de tique-taques todos os dias, mas tenho um segundo para fazer cada um deles; não os faço de uma só vez, nem tento.

Nunca me preocupo com os que já fiz ontem, nem sei como terei que fazê-los amanhã. Meu negócio é hoje, agora e aqui.

Sei que se fizer isso bem, não me preocuparei com o passado ou futuro.

Se quiserem ser tão sossegados e contentes como eu, não procurem viver toda sua vida já, nem assumir todo fardo do trabalho do futuro. Vivam o agora!

Há um meio fácil e um dificil de fazer o que se tem que fazer. Olhem para mim. Nunca me preocupo, nunca me atropelo, mas o que tenho para fazer, faço e pronto!

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Melhor que o serviço militar obrigatório, a escola gratuita. Melhor que o homem soldado, é o homem cidadão. Melhor que o homem terrível, é o homem pensativo. Melhor que a República de espadas é a república de espíritos. ( Victor Hugo)

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 RENÚNCIA ( Lino Vitti)

Renuncia ao prazer, que apenas te cumula
de amargura e ilusão, embora não o queiras;
renuncia à vitória, espezinhante e chula
porque é inglório vencer assim, com tais bandeiras!

Renuncia ao engodo extasiante da gula,
noitadas de lazer, de longas borracheiras;
 renuncia ao palrar daquele que bajula
e daquele que ri das dores que joeiras!
 
À glória renuncia , à glória que carrega
no andor em que tu vais um cardo ponteagudo,
a essa glória falaz, traidora, rude, cega!

Aos sonhos renuncia, à quimera, ao louvor...
Se podes abjurar porém, às vezes,tudo,
não deves renunciar jamais a um grande amor!

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Há três coroas: a coroa da realeza, a coroa do sacerdócio, a coroa do saber; maior do que elas, porém, é a coroa de uma boa reputação. ( Rabi Simão)

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Acordar cedo é uma boa maneira de ganhar respeito mesmo que não se faça nada mais depois disso. ( Andy Rooney)

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Se Deus quisesse que o homem retrocedesse, com a mesma facilidade com que deve avançar, ter-lhe-ia posto um olho na parte de trás de sua cabeça.
( Victor Hugo)

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As brutalidades do progresso chamam-se revolução. Depois delas terminadas todos reconhecem que o gênero humano foi severamente tratado, mas que progrediu. ( Victor Hugo)

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Os ricos morrerão de desnutrição se não acabarem com a fome dos pobres. ( John Kennedy)

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Quando os ricos se tornam sempre mais ricos e os pobres sempre mais pobres, algo de novo pode acontecer. ( Victor Hugo)

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De que vale a riqueza sem saúde e sem honra? Iludem-se os que julgam que os homens de fortuna mal adquirida são felizes: sofrem. O que tem uma chaga embora a oculte esta sempre a sentir-lhe os latejos e à noite, quando se despe, conturba-se vendo-a mais alastrada. ( Coelho Netto)

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O homem rico desde que familiariza com a pobreza. ( Epícuro)

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É melhor viver rico do que morrer rico. ( Samuel Johnson)

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Ri... e o mundo rira contigo. Chora... e tu estarás sozinho. ( Elia Willcox)

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Quando nasceste, ao teu redor todos riam, só tu choravas. Faze por viver de tal modo que à hora de tua morte, todos chorem, só tu rias. ( Confúcio)

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 O ENAMORADO DAS ROSAS ( Olegário Mariano)

Toda manhã, ao sol, cabelo ao vento,
Ouvindo a água da fonte que murmura
Rego as minhas roseiras com ternura
Que água lhes dando, dou-lhes força e alento.

Cada uma tem suave movimento
Quando a chamar minha atenção procura
E mal desabrochada na espessura,
Manda-me um gesto de agradecimento.

Se cultivei amores à mancheias,
Culpa não cabe às minhas mãos piedosas
Que eles passassem para mãos alheias.

Hoje, esquecendo ingratidões mesquinhas,
Alimento a ilusão de que essas rosas,
Ao menos essas rosas, sejam minhas.

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A ROSINHA ( Thomas Moore)

A rosa que te dei, há tão pouco nascida,
Era do rouxinol a rosa preferida;
Muita vez, ao luar, nas ramas orvalhadas,
Viram-no murmurando as lânguidas baladas.

Oh! Conserva esta flor, conserva-a com cautela,
Tua respiração pode alongar a dela;
Toda vez que ela ouvir teu anélito brando,
Há de conjeturar que é o rouxinol cantando.

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PENSAMENTOS DE RUI BAREOSA, DESTACADOS DE SEUS DISCURSOS E CONFERÊNCIAS

1) O gênero humano afundiu-se na matéria, e no oceano violento da matéria flutuam, hoje, os destroços da civilização meio destruída. Esse fatal excídio está clamando por Deus. Quando ele tornar a nós, as nações abandonarão a guerra e a paz então assomará entre elas, a paz das leis e da justiça, que o mundo ainda não tem, porque ainda não crê.

2) Onde for apurável um grão, que seja, de verdadeiro direito, não regatear ao atribulado o consolo do amparo judicial. Não proceder, nas consultas
senão com a imparcialidade real do juiz nas sentenças. No fazer da banca balcão, ou da ciência mercatura. Não ser baixo com os grandes, nem arrogante com os miseráveis. Servir aos opulentos com altivez e aos indigentes com caridade. Amar a Pátria, estremecer o próximo, guardar fé em  Deus, na verdade e no bem.
— Eia, senhores! Mocidade viril! Inteligência brasileira! Nobre nação explorada! Brasil de ontem e de amanhã! Dai-nos o de hoje, que nos falta.
Mãos à obra da reivindicação da nossa perdida autonomia; mãos à obra da nossa reconstituição; mãos à obra da nossa reconstituição interior; mãos à obra de reconciliarmos a vida nacional com as instituições nacionais; mãos à obra de substituir pela verdade o simulacro político da nossa existência entre as nações. Trabalhai por essa que há de ser a salvação nossa. Mas não buscando salvadores. Ainda vos podereis salvar a vós mesmos. Não é sonho, meus amigos: bem, sinto eu, nas pulsações do sangue, essa ressurreição ansiada. Oxalá não se me fechem os olhos, antes de ver os primeiros indícios no horizonte. Assim o queira Deus.

3) ... antes, com os mais miseráveis é que a justiça deve ser mais atenta e redobrar de escrúpulo porque só os mais mal defendidos, os que suscitam menos interesse, e os contra cujo direito conspiram a inferioridade na condição com a míngua nos recursos.

4) O tempo há de passar sobre essas misérias, e lavá-las, como o oceano lava, do lixo das praias, a orla sempre alvejante do seu azul. Há de afastar-se a ressaca enlameada; mas ainda após ficará ressoando o grito do nosso protesto e do nosso desafio, que endereço à justiça dos meus concidadãos, abrindo-lhes todas as páginas da minha vida íntima... desafio, protesto, grito da consciência revoltada, que eu poderia traduzir nestas palavras de Cavour, em 1852, no parlamento italiano: “Desde que entrei na carreira política, aprendi a suportar as injúrias, as calúnias, as insinuações malignas; desprezei-as no começo, quando vinham das praças e tinham por intérpretes ignóbeis jornais; hoje não as desprezo, menos, quando se levantam dos bancos dos negociantes e dos salões doirados.

5) Rejeito as doutrinas do arbítrio; abomino as ditaduras de todo gênero, militares ou científicas, coroadas ou populares; detesto os estados de sítio, as suspensões de garantias, as razões de Estado, as leis de salvação pública; odeio as combinações hipócritas do absolutismo dissimulado sob as formas democráticas e republicanas.

6) De todas as desgraças que penetram no homem pela algibeira e arruinam o caráter pela fortuna, a mais grave sem dúvida nenhuma essa: o jogo, o jogo na sua expressão mãe, o jogo na sua acepção usual, o jogo propriamente dito; em uma palavra, o jogo. Com a mesma continuidade, com que devora as noites do homem ocupado e os dias do ocioso, os milhões do opulento e as migalhas do operário, tripudia uniformemente sobre as sociedades nas quadras de fecundidade e de penúria de abastança e de fome, de alegria e de luto. É a lepra do vivo e o verme do cadáver.

7) Por seis julgamentos passou Cristo, três às mãos dos judeus, três as dos romanos, e em nenhum teve um juiz. Aos olhos dos julgadores refulgia sucessivamente a inocência divina, e nenhum ousou estender-lhe a proteção da toga. Não há tribunais, que bastam para abrigar o direito, quando o dever se ausenta da consciência dos magistrados. O bom ladrão salvou-se. Mas não há salvação para o juiz covarde.

8) Increpam-me de faltar com o respeito ao senado, lembrando que já cansei de chamar de múmias aos meus colegas. O cadáver tem rigidez nos tecidos, mas ainda o movimento na decomposição. Nas múmias a morte congelou inerte, imutável,com os atavios, as honras, as pompas da grandeza e do império, em corpos vazios de alma, no aspecto dos quais só resta da vida uma perfeita e visível mentira. Tais, na importância de sua majestade extinta e embalsamada, os poderes, que abdicam, sem se demitirem, os parlamentos, que se escravizam, sem se dissolverem.

9) Política e politicalha não se confundem, não se parecem, não se relacionam uma com a outra. Antes se negam, se excluem, se repulsam mutuamente. A política é a arte de gerir o Estado, segundo princípios definidos, regras morais, leis escritas, ou tradições respeitáveis. A politicalha é a industria do explorar a beneficio de interesses pessoais. Constitui a política uma função, ou o conjunto das funções do organismo nacional: o exercício normal das forças de uma nação consciente e senhora de si mesma. A politicalha, pelo contrário, o envenenamento crônico dos povos negligentes e viciosos pela contaminação de parasitas inexoráveis. A política é a higiene dos países moralmente sadios. A politicalha a malária dos povos de moralidade estragada.

10) Um povo livre não está sujeito as leis que vote pelos seus representantes. Mas se, com a mentira eleitoral, o povo do voto, que é a soberania do povo; se, com as oligarquias parlamentares, banem o povo do Congresso Nacional, que
é a representação do povo; se com as delapidações orçamentárias, malbaratam a receita do imposto, que é o suor do povo; se com as malversações administrativas, que é o patrimônio do povo; se com o pretorianismo e a caudilhagem, anulam a defesa da pátria que é o grande lar comum do povo; se com a postergação oficial das sentenças, destroem a justiça, que é o último asilo da justiça do povo; se com a organização da incompetência
do afilhadismo e da venalidade, excluem do serviço do Estado, a inteligência, o saber e a virtude, que são os elementos do governo do povo, pelo povo, para o povo; se, em suma, escorcham, dessangram e envilecem o povo, subtraindo-lhe tudo o que realmente distingue um povo de uma besta de carga, ou de uma besta de tiro; não nos espantemos de que, como aos mais lerdos muares, ou às vezes mais mansas, esgotada um dia a paciência, a cansada alimaria, junte os pés, e, num corcovo desses em que nem o gancho nem o cossaco se aguentam, voe aos ares sela, estribos, chilenas, rebenques e cavaleiros.

11) A imprensa é a vista da nação. Por ela é que a nação acompanha o que lhe passa ao perto e ao longe, enxerga o que lhe malfazem, devassa o que lhe ocultam e tramam, colhe o que lhe sonegam ou roubam, percebe onde lhe alvejam, ou destroem, vela pelo que lhe interessa, e se acautela do que a ameaça. Sem vista mal se vive. Vida sem vista é vida no escuro, vida na saudade, vida no medo, morte em vida.

12) Três âncoras deixou Deus ao homem: o amor da pátria, o amor da liberdade, o amor da verdade. Damos a vida pela pátria. Deixamos a pátria pela liberdade. Mas pátria e liberdade renunciamos pela verdade. Porque este é o mais sendo de todos os amores. Os outros são da terra e do tempo. Este vem do céu e vai à eternidade.

13) O exército não é uma casta, nem os seus chefes têm privilégios de nobreza. A força armada outra coisa não é que um copo de serventuários do Estado organizados e retribuídos para servir a nação, com o sacrifício da sua obediência e o sacrifício da sua vida. A sua honra consiste exclusivamente em servir bem ao País, subordinar-se à lei, estar com o governo constitucional e morrer pela Pátria.

14) Sem o senso moral, que Danton não tinha, a audácia é a grande alavanca do mal. Mas, esse instrumento das façanhas da imoralidade, ou da crueza, tem o seu ponto necessário no apoio da fortuna. Em lhes falseando ela, os Arquimedes do crime político esmorecem, capitulam e sucumbem! A audácia é o espírito fatalista dos aventureiros, a quem uma partida tira do jogo o que outra lhe dera. Só o dever e a justiça podem, fundar o governo do povo pelo povo.

15) Cada jornalista é, para o comum do povo, ao mesmo tempo, um mestre de primeiras letras e um catedrático de democracia em ação, um advogado e um censor, um familiar e um magistrado.

16) Nas almas dominadas pelo senso de responsabilidade a consciência de um poder pesa como um fardo, e atua como freio. É dos livros sagrados aquilo: “No julgueis, e não sereis julgados. Não condeneis, e não sereis condenados. Como haver, pois, quem assuma expontaneamente o encargo de julgar e condenar?

17) O mal nunca venceu o bem, senão usurpando a este o necessário para o iludir, o arredar, o adormecer, o fraudar, o substituir, o vencer. Se a injustiça, a mentira, o egoísmo, a cobiça, a rapacidade, a grosseria d’alma, a baixeza moral, a inveja, o rancor, a vingança, a traição apare cessem nus e desnudos aos olhos do indivíduo, aos olhos da sociedade, aos olhos do mundo, ninguém preferiria o mal ao bem, e o bem não se veria jamais desterrado pelo mal.

18) Onde não entra o sol, não entra a saúde, onde não entra a luz, não entra o asseio, onde não entra a claridade, não entra a ordem, a pureza, o contentamento. A vida que se desenvolve nas trevas, vida baixa, descorada, maligna das miasmas, das devandijas e dos ratos, a vida triste, infecta e odiosa das masmorras, dos subterrâneos e dos esgotos.

19) Os antigos enxergavam no mentiroso o mais vil dos tarados morais. Depois de enumerar todas as misérias de um perdido, concluiam quando cabia:
“E, até, mente!” Entre dois ladrões, os judeus crucificaram a Jesus, porque não, ousaram excruciá-lo entre dois burlões. O ladrão prostitui com o roubo as suas mãos. O mentiroso, com a mentira, a própria boca, a palavra e a consciência. O ladrão ofende o próximo nos bens da fortuna. O mentiroso, não é no patrimônio, na honra, na liberdade, na própria vida.

20) A honra é ainda mais obrigatória nos que representam nações do que nos que só se representam a si mesmos. A torpitude, que nos particulares, inspira desprezo e enjôo, no órgão de uma soberania nacional, provoca escândalo e revolta. Num caso, é um sujeito que se desmoraliza. No outro é uma nacionalidade, que se desacredita; e quando, como neste, o descrédito não corre entre nacionais, mas no meio de estrangeiros, mais dói ainda nas faces do povo, que se lhe sente exposto, à injúria dos falsos representantes aos seus cabisbaixos representados.

21) O voto é a primeira arma do cidadão. Com ele vencereis. Agora, se vô-lo roubarem, é outra coisa. Com ladrões, como ladrões. Quando a ofensiva vos arrebata um direito, até onde o exigir a recuperação deste, até aí deve ir a defensiva. Comem-vos os parasitas, comendo-vos o imposto? Pois é  cortardes os mantimentos aos parasitas. Já vô-lo disse. Como? Recusando-vos a pagar os tributos legais? Não: apoderando-vos pelas urnas, da função legislativa, que é a função do imposto. Quem o não vota, não pode ser obrigado a pagá-lo. Agora, se vos exortarem das urnas, se vos tangerem do Parlamento, e salteando  a soberania nacional, vos exigirem impostos, que não votastes, porque não elegestes a quem os votou, isto é outro caso. Com salteadores. Na guerra, como na guerra. O povo não é obrigado a pagar senão o imposto que votou.

22) A política é a arte de gerir o Estado, segundo princípios definidos, regras morais, leis escritas ou tradições respeitáveis.

23) Foi em 1748 que Montesquieu deu ao mundo político essa liçãoo memorável de que “em todo governo há três espécies de poder: o legislativo, o executivo e o judiciário. A existência dos três poderes não é privilégio do sistema republicano, mas necessidade comum a todas as constituições regulares.

24) No sei se erro; mas errarei com o maior de todos os mestres; minha opinião é esta: fujamos da ditadura.

25) Não há duvida nenhuma de que todas as liberdades estão sujeitas à lei — “sub lege libertas”; por que todas são susceptíveis de equívocos, desvios e excessos, mercê dos quais se podem converter em privilégio de uns para opressão de outros.”

2ó) As mais das vezes as revoluções do povo são apenas contra-revoluções, opostas as revoluções dos governos, O povo obriga o governo sair da revolução para a ordem, de que ele desertara.

27) O dever de obediência aos governos expira, nos povos, desde que os governos mudam em regime de legalidade. A usurpação de uma autoridade, que as leis no lhe atribuem, deslegitima o poder.

28) Quando trabalha em distribuir com mais equanimidade a riqueza pública, em obstar-se a que se concentrem nas mãos de poucos somas tão enormes de capitais, que praticamente, acabam por se tornar inutilizáveis, e, inversamente, quando se ocupa em desenvolver o bem-estar dos deserdados da fortuna, o socialismo tem razão. O trabalho no castigo: a santificação das criaturas. Tudo o que nasce do trabalho é bom. Tudo o que se amontoa no trabalho, é útil. Por isso a riqueza, por isso o capital, que emanam do trabalho são, como ele, providenciais; como ele, necessários, benfazejos, como ele. Mas já do capital e da riqueza é manancial o trabalho ao trabalho cabe a primazia incontestável sobre a riqueza e o capital.

29) A pátria é a família amplificada. E a família, divinamente constituída, tem por elementos orgânicos, a honra, a disciplina, a fidelidade a beniquerença, o sacrifício. A pátria não é ninguém: são todos; e cada qual tem no seio dela o mesmo direito à idéia, à palavra, à associação. A pátria não é um sistema, nem uma seita, nem um monopólio, nem uma forma de governo: é o céu, o solo, o povo, a tradição, a consciência, o lar, o berço dos filhos e o túmulo dos antepassados, a comunhão da lei, da língua e da liberdade.

30) A morte não extingue: transforma; não aniquila: renova; não divorcia: aproxima.

31) Caso, postos de parte os descontos humanos, houvessem de condensar numa síntese o meu “curriculum vitae”, e do meu naufrágio sobrassem alguns restos, tudo se teria, talvez, resumido com dizer: “Estremeceu a pátria, viveu no trabalho e não perdeu o ideal”.

32) Por derradeiro, amigos de minh’alma, por derradeiro, a última, melhor lição da minha experiência. De quanto no mundo tenho visto, o resumo se abrange nestas cinco palavras: “Não há justiça sem Deus”.

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 Escutem! A sabedoria está gritando nas ruas e nas praças. Nas portas das cidades e em todos os lugares onde o povo se reúne, ela está gritando alto, assim: — Gente louca! Até quando vocês continuarão nessa loucura? Até quando terão prazer em zombar da sabedoria? ( Salomão)

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Se você me ouvir, entenderá o é que direito, justo, honesto, e saberá o que deve saber. Você se tornará sábio, e sua sabedoria lhe dará prazer. Seu procedimento e sua sabedoria o protegerão e o livrarão de fazer mal. Assim você ficará longe das pessoas que vivem dizendo mentiras. ( Salomão)

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A luz dos archotes assemelha-se à sabedoria dos covardes: ilumina mal, porque teme. ( Victor Hugo)

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O que não sabe e não sabe que não sabe, é um imbecil: fuja dele; o que não sabe e sabe que não sabe é um ignorante: ensine-o; o que sabe e não sabe que sabe, está a dormir: desperte-o; o que sabe, e sabe que sabe, mas não faz ostentação do que sabe, é o verdadeiro sábio: segue-o! ( Sabedoria Oriental)

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De pouco se admiram os que sabem muito; de tudo os que nada sabem. ( Sêneca)

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A maior sabedoria que existe é conhecer a si mesmo. ( Galileu Galilei)

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Não basta adquirir sabedoria, é preciso também usá-la. ( Cícero)

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 SONETO ( Tomaz Antonio Gonzaga)
 
Obrei quando o discurso em guiava,
Ouvi os sábios, quando errar temia;
Aos bons no gabinete o peito abria,
Na rua a todos como iguais tratava.

Julgando os crimes nunca os votos dava
Mais duro, ou pio, do que a lei pedia;
Mas devendo salvar o justo, ria,
E devendo punir o réu, chorava.

Não foram, Vila Rica, os meus projetos
Meter em férreo cofre cópia de ouro,
Que chegue aos filhos e passe aos netos;

Outras são as fortunas que me agouro:
Ganhei saudades, adquiri afetos,
Vou fazer destes bens melhor tesouro.

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Quando os nossos feitos excedem o nosso saber, o saber é real; mas quando o saber é maior que os nossos feitos, o saber é fútil. ( Rabi Hanimabon Dosé)

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O sábio não é aquele que ensina mas o que aprende. ( Isaac Newton)

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“Só sei uma coisa e é que nada sei. ( Sócrates)

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SAUDADE - Ao inesquecível Archimedes Dutra
( Ésio Antonio Pezzato)

Hoje que a angústia, o tédio e a solidão sombria
Desvaneceram, faço, Amigo, um novo canto
Que, ao contrário daquele outro — ensopado em pranto,
Este, terá o sabor de uma saudade fria.

Mas o fogo arde em mim e o fogo me arde tanto,
Que em brasa, o coração, explode em agonia...
— Desde que tu partiste, Amigo, está vazia
A casa em que viveste... e era cheia de encanto...

Tudo era luz divina e eram cores sagradas,
Que brilho, esplendor, sonhos, projetos, poemas,
Que perdidos estão há tantas madrugadas...

A tua ausência, Amigo, eu sinto quando, pelas
Noites, sem fim caminho e em convulsões supremas,
Olho o céu que refulge em turbilhões de estrelas!

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CELESTE ( Adelino Fontoura)

É tão divina a angélica aparência,
E a graça que ilumina o rosto dela,
Que eu concebera o tipo da inocência
Nessa criança imaculada e bela,

Peregrina do céu, pálida estrela,
Exilada da etérea transparência
Sua origem não pode ser aquela,
Da nossa triste e mísera existência.

Tem a celeste e ingênua formosura
E a luminosa auréola sacrossanta,
De uma visão do céu, cândida e pura;

E, quando os olhos para o céu levanta,
Inundados de mística doçura,
Nem parece mulher — parece santa.

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FINAL ( Felipe de Oliveira)

Resta o passado, o meu passado, a minha glória. Não por mim, mas por ti, que nele existes, por ti, que me povoas a memória e os sentidos, a memória imortal do pensamento, como mil estátuas dos teus gestos tristes, com teu silêncio a sufocar, como um lamento longo, a tibieza do teu amor, que era, na frialdade do meu precoce outono, um hálito morno de primavera... Resta o passado, céu de eterna claridade, paraíso perdido, onde a um gesto de adeus e de abandono, parou, como o sol da Bíblia, o meu destino. Resta o passado que não foge, que não cansa... Resta a saudade, mais fiel, e mais doce que a esperança.

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CANTIGAS PRAIANAS ( Vicente de Carvalho)

É tão pouco o que desejo,
Mas tudo o que me falta;
Só porque a flor do teu beijo
Pende de rama tão alta.

Haverá queixa mais justa
Que a do feliz que se queixa?
Ai! O bem, que menos custa,
custa a saudade que deixa.

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À DINAMENE ( Camões)

Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no céu, eternamente,
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá, no assento etéreo, onde subiste
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E, se vires que pode merecer-te,
Alguma coisa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus que teus anos encurtou
Que tão cedo de cá me leve a ver-te
Quão cedo de meus olhos te levou.

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 SAUDADE ( F. Gaspar)

Quem não sentiu ainda, ao tíbio lume
Da tarde a voz desse anjo peregrino,
Que soluça nas cordas de um violino
E se eleva de manso num perfume?

A alma, exalando num íntimo queixume,
Que é a extrema nota querida de um hino,
De joelhos abre o esquife, cristalino,
Onde alguém dorme, alguém que o céu resume.

De tudo guardo cândida saudade;
De uma ilusão, de um beijo, da beleza
De um olhar de celeste claridade,

De tudo que passou, que já não vive...
E tenho até nas horas de tristeza
Saudade das saudades que ja tive.

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Para matar as saudades,
Fui ver-te em ânsias, correndo...
E eu que fui matar saudades,
Vim de saudades morrendo... ( Adelmar Tavares)

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 EPITÁFIO ( Tobias Barreto)

Teve a morte de uma santa,
Tendo a vida de uma flor!...
Eis aqui o que eu queria
Que me explicasseis, Senhor!

Para provar que não fomos
Todos, mais que sombra e pó,
Será mister morrer moça,
Deixando, o filhinho só?

Ora, Senhor! Perdoai-me!
Não compreendo isto assim:
Viver e morrer tão cedo
Sem um mister, sem um fim;

Passar como uma aura leve,
Ou como um sonho de amor,
Ter a morte de uma santa,
Tendo a vida de uma flor!...

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À CAROLINA ( Machado de Assis)

Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho, e virei pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro,

Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs um mundo inteiro.

Trago-te flores — restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E hoje mortos nos deixa e separados.

Que eu, se tenho nos olhos mal feridos
Pensamentos de vida formulados
São pensamentos idos e vividos.

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HISTORIA ANTIGA ( Raul de Leoni)

No meu grande otimismo de inocente,
Eu nunca soube porque foi ... um dia,
Ela me olhou indiferentemente,
Perguntei-lhe porque era... não sabia...

Desde então, transformou-se, de repente,
A nossa intimidade correntia
Em saudações de simples cortesia
E a vida foi andando para frente...

Nunca mais nos falamos... vai distante,
Mas, quando a vejo, há sempre um vago instante,
Em que seu mudo olhar no meu repousa,

E eu sinto, sem no entanto compreendê-la,
Que ela tenta dizer-me alguma coisa,
Mas que é tarde demais para dizê-la...

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Três pessoas podem guardar um segredo se duas delas já estiverem mortas. ( Franklin)

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Não se pode semear de punhos fechados. ( Adolfo Pérez Esquivel)

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SEMEADOR ( Anônimo)

Sê um semeador.
No campo do mundo sê um semeador.
Não podes fugir à responsabilidade de semear. Não digas que o solo é áspero. Que chove muito. Que o sol queima. Que a semente não serve. Não é tua função julgar a terra, a semente e o tempo. Tua missão é semear com amor e bom senso.
A semente abundante: um pensamento, um sorriso, uma promessa de alento, um aperto de mão, um conselho, um copo d’água! Sim, são sementes que germinam facilmente.
Não semeies, porém, descuidadamente. Como quem cumpre uma missão desagradável. Semeia com fé, com atenção. Como quem encontra nisso o motivo central da própria felicidade.
Semeia sempre. Todo o tempo. Semeia, com amor, a boa semente. Com interesse. Como se estivesses semeando o próprio coração.
Sê, pois um semeador.

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SEMEADOR ( Bráulio de Abreu)

Busca sempre, na vida, o próspero e fecundo
grão do teu sentimento. E verás, algum dia,
a árvore produzir, para a glória do mundo,
flores e frutos bons, de humildade e alegria.

Vela o sono fugaz do infeliz moribundo
e esquece a própria dor que tanto te angustia;
porque o alheio mal é maior, mais profundo,
e o teu destino encher a mão que está vazia.

Pede a Deus, que te dê a pupila dos astros,
pelos que vivem sós, pelo destino incerto
desses que vão e vêm onde há velas e mastros.

E nunca, em toda vida, o desamor te vença,
 Teu dever é florir o mais bruto deserto,
sem, ao menos, pensar na menor recompensa.