Junho de 1990

O PROJETO FLORAM DISCUSSÃO

 O PROJETO FLORAM é uma proposta nascida junto ao Instituto de Estudos Avançados da USP (IEA) para ser discutida e oferecida à sociedade brasileira. O Prof. José Goldenberg, quando ainda Reitor da USP, declarou que "também é função da Universidade criar fatos novos para subsidiar a ação do Estado, com total independência da orientação política do governo". Isto significa que o Projeto proposto não pode, sob hipótese alguma, ser confundido como alternativa de política florestal do País, podendo, todavia, ser incorporado por esta. Testemunho que, desde sua concepção, nunca se qualificou nem se apresentou dentro desta ótica.

Pode ser uma oportunidade ímpar para se ter uma nova visão da realidade florestal brasileira. Por outro lado, ousa apresentar para discussão, um elenco de ações concretas e viáveis para sobrepor-se à fase analítica e contemplativa em que essa mesma realidade florestal está mergulhada há muitos anos. O grande mérito do Projeto é assentar-se na trilogia ecológica/social/econômica. É fundamental que sejam alcançados resultados equivalentes e simultâneos em todas as fases de seu desenvolvimento.

Como consequência tem que haver uma concordância de que é possível se compatibilizar a preservação do meio ambiente, suas florestas nativas, recuperação de áreas de interesse ecológico e paisagístico e a silvicultura intensiva que visa a produção de biomassa para energia e de madeira para abastecimento indústria. Conforme já divulgado, três tipos básicos de reflorestamento constam do projeto: a) ecológico - constituído sobretudo por essências nativas e destinado à formação de matas ciliares, à proteção de nascentes e mananciais e a recompor espaços de interesse 
ecológico e paisagístico; b) econômico - destinado à exploração industrial mas dotado também de importantes objetivos ambientais regionais, como o combate à desertificação e à erosão; c) florestas com múltiplos objetivos onde se mesclam os dois tipos anteriores e outros, como o reflorestamento da parte da Amazônia já comprometida com sistemas inadequados de ocupação.

Neste último caso, as novas florestas funcionarão como obstáculo ao processo de destruição da grande floresta amazônica pela borda meridional. Derivado da "síndrome de incentivos fiscais" (quando são analisados somente seus malefícios), ocorre, para alguns, um misto de surpresa e descrença quando o Projeto propõe uma área de 20 milhões de hectares (2,3 % do território brasileiro) a serem reflorestados num prazo de 20-30 anos.

Para muitos, algo de tal magnitude, traz à mente, mirabolantes extensões de monoculturas, êxodo rural, desalojamento da agricultura, concentração de terras, derrubada de florestas nativas, eliminação da fauna, prejuízos irreparáveis à biodiversidade, "esterilização" do solo, desertos... o caos! Não restam dúvidas de que cabe separar, primeiro, o que existe de lenda e realidade: às primeiras, procurar esclarecê-las à luz dos conhecimentos atuais, e às segundas, lançar mão de todas as medidas existentes para eliminar ou minimizar os possíveis prejuízos e desvios que possam ocorrer.

Nos dias atuais, a própria sociedade já evoliu o suficiente para exercer um poder de pressão e controle através de seus líderes políticos e grupos ambientalistas. O grupo que coordena o Projeto preconiza que todos estes pontos sejam discutidos, esclarecidos e sugeridas as devidas e necessárias medidas preventivas e corretivas. Por outro lado, o Projeto deve realmente ser, na sua somatória, um megareflorestamento pois, sua proposta primeira, não é retornar ao "Brasil do Milagre", nem atender ao abastecimento industrial. O Projeto é mais ousado: "pretende ser uma iniciativa brasileira destinada à iniciar um movimento internacional para a fixação, do excesso de 115 bilhões de toneladas de carbono em suspensão na atmosfera”, segundo já definido nos documentos editados pelo IEA.

Dentro desta ótica, a mensagem já ultrapassou nossas fronteiras. A ciência e a tecnologia brasileira na área de abrangência do Projeto estão suficientemente aparelhada para enfrentar este desafio com os conhecimentos acumulados nas universidades, institutos e centros de pesquisas e junto à iniciativa privada. Só dependem de uma decisão política para concentrar os esforços de forma coordenada e construtiva, e importante, sem preconceitos ou traumas do passado.

O Brasil, na atualidade, é reconhecido internacionalmente pela tecnologia desenvolvida na formação de florestas de rápido crescimento e vem concentrando sua atenção nos conhecimentos de manejo de florestas tropicais, agrossilvicultura, recuperação de áreas degradadas e matas ciliares. O Projeto entra numa fase decisiva, na qual suas propostas são colocadas para discussão pelos diferentes segmentos da comunidade científica, política e econômica. Apoiada num debate amplo, a sociedade deve assimilá-lo e há a expectativa de que os órgãos governamentais e da iniciativa privada o administrem dentro da realidade ecológica/ social/econômica citada.

Nesse momento, estará cumprida a missão do IEA e do grupo coordenador do FLORAM. 

 

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