Junho de 1990
O PROJETO FLORAM DISCUSSÃO
Pode ser uma oportunidade ímpar para se ter uma nova visão da realidade
florestal brasileira. Por outro lado, ousa apresentar para discussão, um elenco
de ações concretas e viáveis para sobrepor-se à fase analítica e contemplativa
em que essa mesma realidade florestal está mergulhada há muitos anos. O grande
mérito do Projeto é assentar-se na trilogia ecológica/social/econômica. É
fundamental que sejam alcançados resultados equivalentes e simultâneos em todas
as fases de seu desenvolvimento.
Como consequência tem que haver uma
concordância de que é possível se compatibilizar a preservação do meio
ambiente, suas florestas nativas, recuperação de áreas de interesse ecológico e
paisagístico e a silvicultura intensiva que visa a produção de biomassa para
energia e de madeira para abastecimento indústria. Conforme já divulgado, três
tipos básicos de reflorestamento constam do projeto:
ecológico e
paisagístico; b) econômico - destinado à exploração industrial mas dotado
também de importantes objetivos ambientais regionais, como o combate à
desertificação e à erosão; c) florestas com múltiplos objetivos
onde se
mesclam os dois tipos anteriores e outros, como o reflorestamento da parte da
Amazônia já comprometida com sistemas inadequados de ocupação.
Neste último
caso, as novas florestas funcionarão como obstáculo ao processo de destruição
da grande floresta amazônica pela borda meridional. Derivado da "síndrome
de incentivos fiscais" (quando são analisados somente seus malefícios),
ocorre, para alguns, um misto de surpresa e descrença quando o Projeto propõe
uma área de 20 milhões de hectares (2,3 % do território brasileiro) a serem
reflorestados num prazo de 20-30 anos.
Para muitos, algo de tal magnitude, traz
à mente, mirabolantes extensões de monoculturas, êxodo rural, desalojamento da
agricultura, concentração de terras, derrubada de florestas nativas, eliminação
da fauna, prejuízos irreparáveis à biodiversidade, "esterilização" do
solo, desertos... o caos! Não restam dúvidas de que cabe separar, primeiro, o
que existe de lenda e realidade: às primeiras, procurar esclarecê-las à luz dos
conhecimentos atuais, e às segundas, lançar mão de todas as medidas existentes
para eliminar ou minimizar os possíveis prejuízos e desvios que possam ocorrer.
Nos dias atuais, a própria sociedade já evoliu o suficiente para exercer um
poder de pressão e controle através de seus líderes políticos e grupos
ambientalistas. O grupo que coordena o Projeto preconiza que todos estes pontos
sejam discutidos, esclarecidos e sugeridas as devidas e necessárias medidas
preventivas e corretivas. Por outro lado, o Projeto deve realmente ser, na sua
somatória, um megareflorestamento pois, sua proposta primeira, não é retornar
ao "Brasil do Milagre", nem atender ao abastecimento industrial. O
Projeto é mais ousado: "pretende ser uma iniciativa brasileira destinada à
iniciar um movimento internacional para a fixação, do excesso de 115 bilhões de
toneladas de carbono em suspensão na atmosfera”, segundo já definido nos
documentos editados pelo IEA.
Dentro desta ótica, a mensagem já ultrapassou
nossas fronteiras. A ciência e a tecnologia brasileira na área de abrangência
do Projeto estão suficientemente aparelhada para enfrentar este desafio com os
conhecimentos acumulados nas universidades, institutos e centros de pesquisas e
junto à iniciativa privada. Só dependem de uma decisão política para concentrar
os esforços de forma coordenada e construtiva, e importante, sem preconceitos
ou traumas do passado.
O Brasil, na atualidade, é reconhecido
internacionalmente pela tecnologia desenvolvida na formação de florestas de
rápido crescimento e vem concentrando sua atenção nos conhecimentos de manejo
de florestas tropicais, agrossilvicultura, recuperação de áreas degradadas e
matas ciliares. O Projeto entra numa fase decisiva, na qual suas propostas são
colocadas para discussão pelos diferentes segmentos da comunidade científica,
política e econômica. Apoiada num debate amplo, a sociedade deve assimilá-lo e
há a expectativa de que os órgãos governamentais e da iniciativa privada o
administrem dentro da realidade ecológica/ social/econômica citada.
Nesse
momento, estará cumprida a missão do IEA e do grupo coordenador do FLORAM.